Dez anos após o Acordo de Paris, o novo relatório do Climate Action Tracker (CAT), divulgado durante a COP30 no Brasil, faz um diagnóstico duro sobre a resposta global à crise climática. O mundo, lê-se no documento, “encontra-se num momento crítico na luta contra as alterações climáticas, sem progresso mensurável nas projeções de aquecimento pelo quarto ano consecutivo”.
Apesar das novas metas para 2035, o impacto é nulo. Segundo o CAT, o cenário que junta os compromissos atuais “permanece nos 2,6 graus, o mesmo que no ano passado. Por outras palavras, as NDC [contribuições nacionalmente determinadas] para 2035 apresentadas até agora não fazem diferença no que toca a manter o aquecimento abaixo dos 1,5 graus”.
A realidade atual já é considerada preocupante, tendo em conta que o planeta aqueceu cerca de 1,3 graus em 2023 e caminha para um excesso temporário acima do limiar de 1,5 graus. Como alerta o relatório, “o mundo está a ficar sem tempo para evitar um excesso perigoso acima do limite” definido pelo Acordo de Paris.
No centro do que o CAT chama de “crise de inação” está “a continuação da expansão da produção e do consumo de combustíveis fósseis”. Para o organismo, estas não são “escolhas políticas abstratas”, mas antes “realidades físicas com consequências humanas” porque “a atmosfera não negoceia e não espera”.
Apesar da falta de progresso para evitar a escalada do aquecimento global, o relatório reconhece que a transição energética está a acelerar e que, em 2025 e pela primeira vez, “as renováveis produziram mais eletricidade no mundo do que o carvão”. Em Portugal, recordou esta semana a ministra do Ambiente e da Energia, 71% da energia em 2024 foi assegurada por renováveis e, já este ano, foi possível atingir 80% nos primeiros seis meses.
O relatório destaca as metas pouco ambiciosas da China e da União Europeia (UE) – que propôs novos objetivos para 2040 - e retrocessos significativos nos Estados Unidos, cuja decisão de abandonar o Acordo de Paris “invalidou efetivamente todas as suas metas”. O resultado é um fosso crescente entre o que está prometido e o que seria necessário para limitar o aquecimento global. O CAT estima que, mesmo cumprindo integralmente os compromissos atuais, “as emissões globais em 2035 seriam mais do dobro (cerca de 125% a 150%) do nível necessário para compatibilidade com 1,5 graus”.
“Os governos devem reforçar urgentemente ou superar as metas para 2030, implementar políticas robustas e garantir transparência e responsabilização”, apela o organismo, referindo-se aos líderes que se reúnem por estes dias em Belém do Pará, no Brasil.