Um grupo internacional de profissionais da aviação lançou esta semana a iniciativa Call Aviation to Action, um apelo global para transformar de forma urgente e decisiva a indústria da aviação, perante o seu impacto crescente nas alterações climáticas. Os fundadores alertam que, sem mudanças estruturais imediatas, o setor está a "caminhar para uma crise".
O movimento reúne trabalhadores do setor — desde pilotos a especialistas em sustentabilidade — que sentem o peso da contradição entre a paixão por voar e a responsabilidade ambiental. "Vemos o bem que a aviação pode fazer, mas também vemos que temos de reinventar a nossa indústria para restaurar a sua contribuição positiva para o mundo", afirma Karel Bockstael, cofundador da iniciativa e antigo vice-presidente de Sustentabilidade da KLM Royal Dutch Airlines.
Segundo Bockstael, a aviação "está a lutar para ter lucro, presa a modelos de crescimento" e é "demasiado otimista quanto ao tempo que a tecnologia vai demorar a resolver os seus problemas climáticos". O responsável sublinha ainda que o coletivo entende "os desafios que os líderes enfrentam, mas mantermo-nos nesta corrida não é uma opção". "A aviação tem de assumir o controlo da sua transformação antes que esta lhe seja imposta", insiste.
Baseada no consenso científico atual, a iniciativa alerta que o caminho seguido pela indústria não é sustentável. Após uma análise aprofundada, os fundadores identificaram quatro mudanças urgentes que devem acontecer até 2025. A primeira passa por definir metas absolutas de redução de emissões, alinhadas com os orçamentos de carbono, reconhecendo que é a acumulação de emissões — e não apenas os fluxos atuais — que contribui diretamente para o aquecimento global. Em segundo lugar, os profissionais apelam a que a indústria deixe de fazer lóbi contra políticas climáticas e, em vez disso, apoie e ajude a implementar regulações que respeitem os limites do planeta e incentivem genuinamente a inovação.
A terceira prioridade é a necessidade de realismo quanto ao papel da tecnologia. O setor deve, defendem, desenvolver um modelo de negócio viável por si só, que não dependa exclusivamente de descobertas tecnológicas futuras, nem da evolução noutras áreas. Por fim, a iniciativa sublinha que a gestão da procura global — feita de forma justa e com especial atenção às regiões com maiores responsabilidades históricas nas emissões de CO2 — deve ser parte integrante da solução.
A Call Aviation to Action não é apenas uma declaração de intenções, mas um convite à ação coletiva dentro da própria indústria. O movimento apela a todos os profissionais do setor para que falem abertamente sobre as suas preocupações nas respetivas organizações. "Sabemos que muitas pessoas estão preocupadas com o futuro da nossa indústria e do planeta, mas assumem, erradamente, que os seus colegas não partilham das mesmas preocupações. Precisamos de quebrar este silêncio para encorajar os nossos líderes a fazer parte desta transição", explica Karel Bockstael.
A iniciativa aposta na construção de uma comunidade global de apoio mútuo, onde profissionais de diferentes áreas e geografias possam colaborar, partilhar experiências e influenciar mudanças concretas dentro das suas esferas de atuação. "Reconhecendo que esta pode ser uma chamada de atenção desconfortável, a iniciativa aposta no apoio mútuo e na construção de uma comunidade para ajudar a indústria a reunir a coragem e o apoio de que precisa para se transformar — para seu próprio benefício", lê-se no manifesto.
