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Sustentabilidade na construção requer melhores politicas públicas

Se a sustentabilidade é incontornável, a sua concretização no setor da construção é um desafio particularmente exigente, que depende de ações concertadas entre o setor, a indústria, e o Estado. Para a ATIC e a Savills a transição já começou, mas precisa de melhores condições, mais consistência na ação, e maior vontade política para avançar de forma decisiva.

04 de Junho de 2025 às 12:51
Mariline Alves
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    A entrada em vigor das chamadas "Diretivas 2030", um conjunto de instrumentos legislativos e metas europeias que pretendem acelerar a descarbonização e a sustentabilidade na construção, colocam o setor perante um desafio particularmente exigente.

    Para debater os desafios e a evolução da sustentabilidade no setor da construção, estiveram neste episódio do podcast Sustentabilidade em Ação, Ricardo Gomes, vice-presidente da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN) e presidente do júri da categoria Bem-Estar e Cidades Sustentáveis no Prémio Nacional de Sustentabilidade, Cecília Meireles, secretária-geral da Associação Técnica da Indústria do Cimento (ATIC), e Paulo Silva, head of Country da Savills.

    Ponto de partida

    Para Paulo Silva é importante destacar o ponto de partida do setor na União Europeia, no que diz respeito à sustentabilidade: os edifícios representam 40% do consumo final de energia, 36% das emissões de gases com efeito de estufa e 75% dos edifícios são energeticamente ineficientes. Além disso, 80 a 85% dos edifícios que existem hoje continuarão em uso em 2050. Por isso, atingir a neutralidade carbónica no setor até essa data exige um esforço técnico e financeiro muitíssimo significativo.

    Mariline Alves

    No entanto, o caminho está a ser feito. Como sublinha o responsável da Savills, no setor privado, a sustentabilidade já influencia decisões: “É praticamente impensável que um investidor compre hoje um edifício que não tenha certificação energética”, referiu Paulo Silva. Do lado da procura, refere, a exigência também cresce, sobretudo em edifícios comerciais, onde os clientes valorizam critérios como consumo de energia, gestão de resíduos e eficiência hídrica, entre outros.

    Privado e público

    Já na construção pública, refere Paulo Silva, há avanços pontuais mas o cenário em termos de exigência de sustentabilidade é ainda incipiente. Existem iniciativas da APA, da Inspeção-Geral de Finanças e do Instituto de Gestão Financeira, mas, de uma forma geral faltam programas estruturados, metas claras e métricas de avaliação. “Sem objetivos quantificáveis no setor público, não conseguimos medir o progresso da sustentabilidade”, afirmou.

    O patinho e o cisne

    A montante da construção, a indústria do cimento também enfrenta desafios técnicos e financeiros específicos exigentes. Para Cecília Meireles, para colocar a situação em perspetiva há que lembrar o papel fundamental do cimento na construção. Este material é o segundo bem mais consumido no mundo depois da água. E muitas das soluções essenciais para combater as alterações climáticas, como saneamento e habitação condigna, não são possíveis sem betão e, por consequência, sem cimento. Na verdade, a indústria “é o patinho feio que já se transformou em cisne”, defende a responsável da ATIC.

    Mariline Alves

    De acordo com Cecília Meireles, a indústria cimenteira já reduziu as suas emissões em cerca de 15%, com investimentos superiores a 200 milhões de euros. O setor publicou o seu roteiro de descarbonização em Portugal, em 2021 e tem metas claras: redução em 48% das emissões até 2030 e neutralidade carbónica em 2050. No entanto, dois terços das emissões da indústria resultam de reações químicas inerentes ao processo de fabrico do cimento, onde a única solução viável, defende, é a captura de carbono.

    No entanto, Portugal está atrasado neste domínio. Segundo Cecília Meireles: “A indústria cimenteira está preparada para avançar com soluções tecnológicas e financeiras, mas é necessário que o país crie as condições, nomeadamente viabilizando investimentos avultados, e investindo na infraestrutura energética e de transporte e armazenamento de carbono”. Para esta responsável, países como a Noruega e a Alemanha, que estão mais avançados nesta matéria podem servir de exemplo.

    É sempre preciso inovar

    Sobre o contributo da inovação para a sustentabilidade, a responsável da ATIC enumerou o esforço de desenvolvimento de cimentos de baixo carbono e soluções construtivas como impressão 3D. No entanto, estas ainda representam uma parte pequena do mercado, porque a procura ainda não é muito significativa. Deste ponto de vista, a contratação pública poderia ajudar, se valorizasse a construção com materiais mais sustentáveis.

    Olhando para a regulação, Ricardo Gomes questionou os intervenientes sobre o papel do Estado como dinamizador ou entrave desta transformação. Para Paulo Silva, o estado: “É o elefante na sala.”  O responsável da Savills criticou a falta de agilidade e de clareza na legislação, e deu exemplos como o IVA na reabilitação urbana, que poderá penalizar muito os investimentos nesta área. Na sua opinião, o Estado deveria canalizar os incentivos para zonas e segmentos onde o mercado não funciona por si, como na habitação acessível.

    Objetivos e realidade

    Na parte final do debate, discutiu-se se a forma como a atual conjuntura internacional pode afetar os objetivos climáticos. Cecília Meireles acredita que as metas são viáveis mas dependem da criação de condições realistas de implementação. “Não basta pôr as metas no papel — é preciso torná-las exequíveis.” Já Paulo Silva alertou para o risco de recuo. “Estamos a chegar à fase em que vão existir custos para ser mais sustentável, e isso poderá afastar da ação quem não está sensibilizado para o tema.” Neste contexto,  Cecília Meireles recordou que decisões económicas já levaram à deslocalização de indústrias para países com custos mais baixos, e teme que a lógica se repita com a sustentabilidade, caso as soluções deixem de ser economicamente competitivas. A conversa terminou com a ideia de que a sustentabilidade na construção é um desafio complexo, que exige tecnologia, investimento, regulação adequada e envolvimento de todos os setores.

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