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Escassez de matéria prima pode impulsionar economia circular

A falta de matéria prima que se está a verificar em várias áreas pode finalmente obrigar o mundo a olhar para os resíduos como um recurso a aproveitar. Em Portugal, já há bons exemplos de aproveitamento de recursos, mas o país continua ainda muito longe de fomentar uma economia circular.

07 de Abril de 2022 às 16:00
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O mundo está em plena convulsão, com várias crises em simultâneo, como a guerra na Ucrânia, o aumento dos preços da energia e a escassez de matéria prima, mas tal pode finalmente impulsionar o desenvolvimento da economia circular. A ideia foi defendida por Joan Marc Simon, diretor-executivo da Zero Waste Europe, no painel dedicado à economia circular, na Grande Conferência Negócios 20|30 e Cerimónia de Entrega do Prémio Nacional de Sustentabilidade, que decorre hoje e amanhã, em Cascais e em streaming. "A procura está a superar a capacidade de fornecimento. Isto é uma tragédia, por um lado, mas também traz boas notícias, porque, pela primeira vez em séculos, se deixarmos os preços falarem a verdade, a agenda ambiental e a agenda económica podem finalmente caminhar lado a lado e começarem a colaborar", referiu Joan Marc Simon.

A economia linear, que funciona desde a extração de recursos até ao descarte para resíduo, tem sido a realidade dos últimos séculos, apesar dos enormes impactos na natureza. Mas esta realidade está a mudar: "A economia linear fez sentido económico nos últimos séculos. Mas este paradigma está a mudar. Se os recursos antes eram considerados ilimitados, hoje são vistos como limitados", referiu o diretor-executivo da Zero Waste Europe. Porém, "a economia circular tem de aliar os interesses das pessoas com os interesses do planeta. Há coisas que fazem sentido a nível ambiental, mas não a nível económico e isso tem sido a tragédia da sustentabilidade nos últimos séculos". Joan Marc Simon salientou ainda que é importante apostar em atingir melhores níveis de reciclagem, mas que o foco deve estar sim na redução do desperdício.

Um exemplo da conciliação de interesses ambientais e económicos foi dado por Tiago Gama Silva, head of ESG Relations - Social da Jerónimo Martins. Neste grupo empresarial, aproveitar matéria prima que antes era descartada é uma realidade. Os chamados ‘legumes feios’ não são desperdiçados e são usados para fazer sopas, saladas, refeições, etc. Estes ‘legumes feios’, que não são vendidos ao consumidor, eram anteriormente deixados no campo e representavam cerca de 20% da produção dos seus parceiros. Vender produtos com validade próxima do fim a preço mais barato é outras das estratégias de combate ao desperdício que tem resultado. No Pingo Doce e na Biedronka, foram aproveitadas para markdown 7900 toneladas de produto em 2021. Também a doação à sociedade e a formação dos colaboradores para uma visão de combate ao desperdício têm sido aplicadas no grupo. "Isto é algo que já está integrado em toda a estrutura de eficiência da matéria prima, porque na realidade nenhuma empresa quer investir e comprar stock para perder dinheiro. Isto seria contraproducente também do ponto de vista da sustentabilidade económica", afirmou Tiago Gama Silva.

Também a ZOURI Shoes, empresa de calçado nacional que produz solas de sapato a partir de lixo marinho, mostra como é possível dar novo uso a material descartado. No entanto, Adriana Mano, CEO da ZOURI Shoes, destaca as inúmeras dificuldades burocráticas e de logística para investir no reaproveitamento de produto e considera que o Estado deve apoiar mais os pequenos empreendedores: "O Estado pode estimular mais. Como é que uma empresa que produz em Portugal de forma sustentável paga a mesma taxa de IVA que outra empresa que produz do outro lado do mundo e não respeita os valores ambientais? Vamos a jogo de forma muito desigual".

Na mesma linha, para Ana Trigo Morais, CEO da Sociedade Ponto Verde (SPV), em Portugal "há uma desvalorização do potencial positivo da economia circular. Temos de alinhar o modelo de circularização dos negócios com um modelo de proteção dos nossos recursos e de prevenção das alterações climáticas". Ana Trigo Morais salienta ainda que Portugal continua a produzir muito lixo e a enterrá-lo em aterros, em vez de aproveitar esta matéria para lhe dar novo uso. "Em 2020, produzimos 5 milhões de toneladas de resíduos urbanos e, destes 5 milhões, enterrámos 64% daquilo que é uma matéria prima para a qual já há capacidade e tecnologia para tratar. O país precisa aqui de uma espécie de revolução, porque não há economia circular com aterros desta maneira", concluiu a CEO da SPV.

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