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Legenda: Helena Gonçalves, José Luís Carvalho, e Marisia Giorgi, foram os intervenientes do terceiro episódio do podcast "Sustentabilidade em Ação".
A pandemia foi um momento de viragem que permitiu, em muitas empresas, dar maior prioridade à questão do bem-estar dos colaboradores e pôr o foco no impacto da flexibilidade e dos modelos híbridos de trabalho – onde eles são possíveis – na cultura e na produtividade.
O terceiro episódio do podcast "Sustentabilidade em Ação", uma iniciativa integrada no Negócios Sustentabilidade 20|30, abordou a temática do bem-estar nas organizações, que se tornou um desafio para as lideranças, e que tem crescido em complexidade à medida que as empresas enfrentam novos desafios e mudanças sociais. Desta vez, a conversa contou com a participação de José Luís Carvalho, diretor de Gestão de Pessoas da CUF, e Helena Gonçalves, professora na Católica Porto Business School. A moderação foi realizada por Marisia Giorgi, diretora de Recursos Humanos do Pingo Doce, e presidente do júri da categoria de Saúde e Bem-Estar nas Organizações no Prémio Nacional de Sustentabilidade.
Marisia Giorgi, diretora de Recursos Humanos do Pingo Doce.
Maior imediatismo nas relações
Para José Luís Carvalho, à partida, a distinção fundamental a fazer nesta temática é entre as empresas que sempre priorizaram o bem-estar dos colaboradores e aquelas que apenas assumiram essa prioridade obrigadas por uma competição crescente pelo talento. No entanto, este responsável reconheceu que "o tempo agora é uma variável mais crítica na relação entre as organizações e as pessoas". Ou seja, vivemos num tempo de mudanças mais aceleradas em que, na opinião deste responsável, existe maior imediatismo nas relações de trabalho e no envolvimento dos colaboradores. Nesta perspetiva, Helena Gonçalves considera que a pandemia e o confinamento contribuíram para estas mudanças, ao alterar os modelos de trabalho, com novas exigências de flexibilidade. Um outro fator é a mudança geracional, que trouxe novas expectativas e valores por parte dos colaboradores.
Para a professora da Católica, estas alterações introduzidas pela pandemia vieram tornar mais evidente a necessidade de considerar o bem-estar organizacional como um equilíbrio entre saúde física, mental, e "social". Neste tema, a pandemia veio tornar mais evidente a questão da saúde mental, que é uma outra "pandemia silenciosa". Estas novas realidades aconselham, afirma, o investimento das organizações em horários de trabalho flexíveis e programas de bem-estar, com maior atenção a culturas de alta pressão no trabalho. Ou seja, deve existir maior preocupação em gerar ambientes de trabalho saudáveis que promovam a produtividade. Isto porque "as empresas sabem que um ambiente de trabalho saudável aumenta a produtividade e reduz o absentismo", afirmou.
O impacto do híbrido
Neste contexto, Marisia Giorgi colocou a questão de o trabalho remoto e o híbrido contribuírem realmente para o bem-estar dos colaboradores. Para José Luís Carvalho, responsável da CUF, essa questão tem de ser mesmo vista em função das características de cada organização. Na CUF, menos de dez por cento dos colaboradores podem trabalhar remotamente, mas a organização valoriza o presencial por considerar que fortalece a cultura organizacional, fomenta a inovação e fortalece a identidade da empresa. Sobre esta questão, Helena Gonçalves salientou que os estudos conduzidos pela Católica Business School Porto vieram pôr em evidência a evolução das expectativas dos colaboradores durante e depois da pandemia e atribuir a ênfase ao facto de o trabalho híbrido exigir confiança nos, e autonomia dos, colaboradores. Para a professora, os testemunhos e a experiência das lideranças mostram que o foco excessivo no controlo da produtividade baseado no cumprimento rígido de horários tem provado não medir necessariamente o desempenho real do colaborador.
José Luís Carvalho, diretor de Gestão de Pessoas da CUF.
Sem presencial sofre a cultura
Os mesmos estudos mostram a importância do presencial também pelo facto de o local de trabalho não ser apenas um espaço produtivo, mas também um local de socialização e celebração. Neste contexto, Marisia Georgi observou que muitas empresas incentivam o regresso ao presencial não apenas por questões de produtividade, mas pela necessidade de criar e manter viva uma cultura organizacional e o espírito de equipa. Nesta perspetiva, José Luís Carvalho salientou a importância da experiência presencial para o onboarding de colaboradores na organização e a sua adaptação à cultura da empresa. Já Helena Gonçalves alertou para o que considerou ser um fenómeno preocupante de um número crescente de jovens que privilegiam o teletrabalho, o que considerou ser um erro na medida em que limita o desenvolvimento das competências interpessoais e de colaboração.
No entanto, para que a experiência presencial seja positiva e produtiva é crítico o papel das lideranças. Como salientou Marisia Giorgi, "o papel do líder na criação de ambientes saudáveis de trabalho é fundamental". A este propósito, José Luís Carvalho salientou que, na sua experiência, não existe um modelo ideal de liderança. A eficácia da liderança depende do contexto e das equipas. Embora reconheça que os estilos "tóxicos" de liderança são um problema, este responsável afirma que muitas pessoas preferem trabalhar com líderes com estilos de gestão mais "exigentes". Para Helena Gonçalves, estes problemas podem ser atenuados com uma maior ênfase na ética no âmbito da cultura organizacional, ajudando a desenvolver lideranças mais humanizadas e capazes de transmitir à organização uma gama de valores mais alargada e equilibrada.
Helena Gonçalves, professora na Católica Porto Business School.
Poder desligar
Finalmente, mas não por último, a conversa incidiu sobre o tema do impacto das tecnologias e do digital no bem-estar dos colaboradores. Para Marisia Giorgi, é uma questão em aberto se as ferramentas digitais realmente contribuem para ajudar os colaboradores a melhorar o seu bem-estar. Já José Luís Carvalho preferiu destacar que, na CUF, o foco tem sido em criar um ambiente seguro, evitando que os colaboradores estejam permanentemente conectados ao trabalho. "Implementámos a certificação de empresa familiarmente responsável para garantir que, por exemplo, não haja ligação permanente ao WhatsApp ou o envio de e-mails fora do horário de trabalho", afirmou. Para Helena Gonçalves, mais do que implementar ferramentas digitais, é necessário criar momentos e espaços seguros para diálogo sobre ética e bem-estar dentro das organizações.
Na verdade, vivemos um momento em que a questão do bem-estar dos colaboradores está a passar de ser uma questão de gestão de benefícios para uma temática que deve ser considerada e tratada no âmbito da estratégia e do modelo de negócio da empresa. Para os intervenientes deste podcast, é na combinação entre lideranças humanizadas, tecnologia bem aplicada e culturas organizacionais éticas e estruturadas que está a chave para garantir um ambiente de trabalho produtivo, inovador e sustentável no longo prazo.