A TotalEnergies e a Siemens lideram um grupo de 46 empresas que pedem a abolição de uma das principais leis de reporte de sustentabilidade da União Europeia (UE). A revelação volta a chamar a atenção para uma divisão crescente entre o setor empresarial e as instituições europeias sobre o equilíbrio entre a competitividade e a transição verde.
Os presidentes executivos Patrick Pouyanné, da TotalEnergies, e Roland Busch, da Siemens, enviaram uma carta conjunta ao presidente francês Emmanuel Macron e ao chanceler alemão Friedrich Merz em nome das empresas signatárias. O documento, datado de 6 de outubro e citado pela Reuters, pede a revogação da Diretiva de Dever de Diligência em Sustentabilidade Empresarial (CSDDD), aprovada em 2024, que obriga as organizações a responsabilizarem-se por problemas ambientais e de direitos humanos nas suas cadeias de fornecimento, sob pena de incorrerem em multas de até 5% do volume de negócios global.
Os executivos afirmam que eliminar estas regras seria “um sinal claro e simbólico de que os governos e a Comissão estão empenhados em restaurar a competitividade na Europa”. A Siemens reforça que a capacidade de competir a nível mundial depende de “menos regulamentação excessiva” e de uma redução significativa da burocracia.
Entre as outras reivindicações incluídas na carta estão a manutenção das licenças gratuitas de emissão de carbono, cuja eliminação está prevista para o próximo ano, e uma revisão das regras de concorrência da UE para permitir fusões com base no mercado global e não apenas europeu.
As propostas vão além das revisões já em negociação em Bruxelas, que preveem apenas simplificar os requisitos e isentar algumas empresas de determinadas obrigações. Tanto França como Alemanha têm manifestado reservas em relação ao alcance das novas regras, numa altura em que outros países e grandes corporações revelam preocupações semelhantes.
Contudo, vale a pena recordar os resultados destas duas gigantes europeias em 2024. O grupo Siemens registou, naquele ano fiscal, um aumento de 3% das receitas para 75,9 mil milhões de euros e um resultado líquido de 9 mil milhões de euros, tendo, aliás, proposto um aumento de dividendo para 5,20 euros por ação. Já a TotalEnergies reportou, em 2024, receitas de 181,9 mil milhões de euros e resultados líquidos de 14,6 mil milhões.
Desregulação não convence empresas europeias
Um estudo recente da YouGov realizado em cinco países europeus, mostra uma perspetiva oposta à defendida pelas grandes multinacionais. O inquérito revela que 55% dos líderes empresariais acreditam que tornar-se mais sustentável é essencial para a competitividade e que apenas 21% pensam o contrário.
Os resultados indicam ainda que quase metade dos inquiridos considera que regras ambientais mais rigorosas dão à UE uma vantagem de longo prazo face à China e aos Estados Unidos, e que 68% defendem que as empresas europeias devem liderar pelo exemplo. Para muitos gestores, “um negócio sustentável é um negócio competitivo”, uma mensagem que contraria o espírito da carta enviada a Paris e Berlim.
Segundo Jurei Yada, diretor de Finanças Sustentáveis da E3G, “os decisores estão a operar sob a falsa suposição de que as empresas querem livrar-se das regras de sustentabilidade”. O estudo mostra que a maioria das empresas vê na transição verde uma oportunidade estratégica para inovar e atrair investimento.