Um décimo da população portuguesa é constituída por imigrantes. O fim da manifestação de interesse, decretado no ano passado, "é uma medida sensata" e que "já deveria ter acontecido antes", disse Pedro Góis, do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, mas falta um fator para que se resolva a questão: "bom senso", acrescentou, na 5.ª edição da conferência Negócios Sustentabilidade 2030, esta quinta-feira na Nova SBE.
Adalberto Campos Fernandes, professor na ENSP Nova, repete as palavras, mas diz que é preciso "respeitar e ser respeitado". "Vivemos todos num Estado de Direito, há que garantir que as regras essenciais são cumpridas, para que quem vem de fora venha com um quadro que respeite a Constituição e tenha acesso aos serviços que a nossa República dispõe", explica.
Uma das consequências do fluxo de imigração é a pressão sobre os serviços públicos. Um deles, o Serviço Nacional de Saúde (SNS). "Temos em Portugal várias especialidades. Somos os especialistas em caos. O SNS está sempre em caos, mas em termos de desempenho está sempre melhor", lamenta. "Se formos à maternidade Alfredo da Costa, em dez bebés, seis não são de mães portuguesas", afirma. A integração dos imigrantes na sociedade através dos serviços públicos e, em especial, na saúde, fomenta o rejuvenescimento da sociedade portuguesa, a segunda mais envelhecida da Europa e a quinta do mundo.
Para o Grupo Pestana, a integração e acolhimento dos trabalhadores imigrantes é já um processo que está incluído na empresa. "Temos trabalhadores espalhados por todo o mundo. Em Portugal, temos cerca de 40 nacionalidades. Não é nada de novo para nós, mas é um processo que tem vindo a acelerar", exemplifica Verónica Soares Franco. A responsável fala também no evidente envelhecimento da população, "por isso é preciso mais recursos para se crescer" no setor hoteleiro.
O maior contributo das empresas, diz, é o acolhimento, em várias áreas. O Grupo Pestana garante que os novos trabalhadores imigrantes têm acesso a formações das línguas inglesa e portuguesa ao cargo da empresa, ao mesmo tempo que garantem alojamento, seguro de saúde e apoio legal.
Mesmo com o fim da manifestação de interesse, o grupo não tem tido dificuldades em contratar, garante a administradora executiva. "Estamos numa boa altura de mercado", assume.
Para o presidente do Conselho Diretivo do AIMA, haver um cruzamento entre procura e oferta dos grupos económicos é um passo fundamental. O pacto para a migração regular "está a começar a dar os primeiros passos", garante.
Em plena campanha, as críticas ao futuro Governo não ficaram de fora. "Temos de resolver problemas que faltam resolver. Os partidos têm de se deixar de tratar destes assuntos com leviandade. Estamos fartos de eleições, têm de nos deixar sossegados durante quatro anos e, esperemos, só voltar a este assunto em 2029", apelou Adalberto Campos Fernandes, que aplaude os trabalhos de integração da população imigrante feitos pela AIMA e pelo Grupo Pestana.
Pedro Góis pede ainda que a integração desta população na educação não seja deixada de lado pelo futuro Governo. "Não pensamos na educação da imigração como um negócio de exportação. Estamos a treinar jovens em grande número e depois deixamo-los sair. A sociedade tem de se preocupar em reter quadros com talento", reiterou.