pixel

Negócios: Cotações, Mercados, Economia, Empresas

Metade das empresas nacionais falha na divulgação dos riscos financeiros climáticos

A KPMG analisou os primeiros relatórios nacionais de sustentabilidade de 20 organizações, que, apesar da ambição, mostram desafios na definição de métricas e na ligação com a estratégia do negócio.

19:46
  • ...

Os primeiros relatórios de sustentabilidade elaborados em Portugal ao abrigo das Normas Europeias de Reporte de Sustentabilidade (ESRS) revelam um setor empresarial empenhado em cumprir os requisitos, mas ainda longe de garantir a qualidade e a comparabilidade que o novo enquadramento pretende alcançar. A conclusão é do “ESRS: lições aprendidas para o futuro”, da KPMG, que analisou 20 empresas e encontrou documentos “significativamente mais extensos” do que a média internacional, com 166 páginas em comparação com 127 da média lá fora. Apesar da “maior densidade informativa”, isso nem sempre significa mais clareza, escreve a consultora.

Apenas 55% das empresas seguiram a estrutura recomendada pela ESMA, um valor inferior aos 71% observados no estudo que inclui empresas internacionais. Todas optaram, contudo, por apresentar a demonstração de sustentabilidade como documento único, o que a KPMG considera uma opção positiva para a centralização da informação. Ainda assim, escrevem os autores, as divulgações “nem sempre refletem uma narrativa integrada entre a estratégia empresarial e a informação de sustentabilidade”.

É nas alterações climáticas que a distância entre ambição e rigor se torna mais evidente, já que quando chega o momento de quantificar os efeitos negativos, metade das 20 empresas não apresentaram qualquer divulgação sobre as consequências financeiras atuais decorrentes de riscos climáticos. O relatório explica esta falha por se tratar de uma “temática relativamente nova para grande parte das organizações”, que exige primeiro “uma análise de riscos climáticos e, apenas posteriormente, a modelação dos efeitos financeiros”. Das sete empresas que divulgaram estes efeitos, apenas cinco o fizeram através de métodos qualitativos e quantitativos, mas com “grande diversidade nas abordagens adotadas”, o que dificulta a comparação entre relatórios.

A consultora aponta que 17 empresas definiram metas de curto prazo e oito já apresentam planos de transição, e que nove assumem metas de neutralidade carbónica. Destas, apenas três têm validação dos objetivos pela Science Based Targets initiative (SBTi).

Na biodiversidade, a maturidade é ainda mais assimétrica, com apenas dez empresas a considerarem este tema material, ainda que nove tenham definido metas. Todas divulgam métricas, mas estas, segundo o estudo, “não refletem plenamente o alcance das suas políticas”, ficando limitadas a hectares de conservação ou madeira certificada e ignorando aspetos essenciais como a fauna ou a conectividade ecológica. Além disso, apenas oitos realizaram avaliações de risco ambiental e, mesmo entre estas, a profundidade das análises varia consideravelmente. 

Estes primeiros relatórios mostram, diz o estudo, um “exercício preliminar” e não representativo do país, mas considerado indispensável para identificar tendências e boas práticas nesta fase inicial. Apesar do esforço, as empresas nacionais aqui analisadas enfrentam desafios como a quantificação dos riscos financeiros e a dificuldade em articular estratégia e sustentabilidade. 

Mais notícias