A sustentabilidade não pode ser encarada como uma moda nem como um peso burocrático, mas como um valor essencial e estruturante para empresas e sociedades. A mensagem foi deixada por Miguel Stilwell, CEO da EDP, durante o jantar de apresentação da 6.ª edição da iniciativa Negócios Sustentabilidade 2030, que decorreu na Nova SBE.
“Custa-me quando as pessoas pegam no ESG e tentam politizar isto ou transformá-lo numa coisa má. Para mim, ambiental, social e governança é simplesmente bom senso”, afirmou. Ao longo da intervenção, Miguel Stilwell insistiu que a consistência e a coerência são fundamentais numa área sujeita a ciclos de maior ou menor entusiasmo, e que a visão de longo prazo deve prevalecer sobre as tentações do curto prazo.
O CEO da EDP rejeitou a ideia de que sustentabilidade signifique perda de competitividade. Pelo contrário, considerou que a transição energética pode ser um fator diferenciador para a Europa, desde que os decisores saibam aproveitar os recursos naturais que o continente oferece. “O grande problema de competitividade da Europa não está na eletricidade, mas no gás natural. Temos condições para produzir energia elétrica renovável de forma competitiva”, sublinhou. A dependência externa de combustíveis fósseis é, considera, a principal fragilidade estratégica do bloco europeu, mas também uma boa razão para redobrar a aposta nas renováveis.
Apesar das vantagens ao nível dos recursos, Miguel Stilwell não deixou de criticar a fiscalidade aplicada ao setor, que afasta investimento e reduz a competitividade europeia. “Na Europa, muitas vezes utilizamos a fatura elétrica para angariar impostos e taxas, o que penaliza empresas e consumidores”, assinalou, acrescentando que este desequilíbrio prejudica a competitividade industrial. Mas há oportunidades que devem ser melhor aproveitadas, nomeadamente na Península Ibérica, onde a abundância de sol, vento e água permite reunir todas as condições para atrair indústria pesada. “Portugal e Espanha têm energia renovável abundante, barata e estável. Deviam ser apresentados como destinos privilegiados para investimento industrial”.
Para lá das questões fiscais, e perante uma sala repleta de empresários, gestores e antigos decisores, o tema da modernização das redes foi também parte da conversa. O CEO lembrou que grande parte das redes nacionais foram criadas na década de 70 e que estão hoje a chegar ao seu limite de vida útil, obrigando a um investimento de grande dimensão. A EDP, partilhou, investiu dois mil milhões de euros em redes nos últimos cinco anos, mas prevê ultrapassar esse montante nos próximos cinco anos, atingindo cerca de 3.500 mil milhões para responder ao crescimento da procura.
Num discurso marcado também pela geopolítica, Miguel Stilwell comparou modelos internacionais e abordou o impacto dos conflitos económicos. Sublinhou a aposta da China em dominar toda a cadeia de valor das energias limpas e a decisão dos Estados Unidos de subsidiar massivamente a sua política energética, enquanto a Europa continua presa a processos burocráticos que atrasam projetos estratégicos. “Precisamos de ser pragmáticos e realistas. Sustentabilidade e competitividade não são incompatíveis. Pelo contrário, a independência energética é uma externalidade positiva da sustentabilidade”, afirmou.
O CEO da EDP destacou ainda a importância da sustentabilidade como fator de propósito e de atração de talento, nomeadamente na operação que o grupo desenvolve nos EUA. “As pessoas querem trabalhar em empresas que fazem a diferença. A capacidade de atrair boas pessoas está ligada a esta visão de longo prazo”, disse, frisando que a aposta em energias limpas é também uma forma de motivar equipas e garantir o futuro da própria empresa.
Apesar das críticas à lentidão europeia, Miguel Stilwell terminou com uma nota de otimismo. Reconheceu o enorme potencial existente na região e a qualidade das pessoas que nela trabalham, garantindo que “o problema não é de conhecimento, mas de pragmatismo e simplicidade”. “Se formos capazes de desbloquear processos, temos todas as condições para vingar”, concluiu.