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A Europa "pensa mais em projetos do que em produtos"

Especialistas debateram, na Grande Conferência de Sustentabilidade, como a Europa pode posicionar-se estrategicamente na corrida global da inteligência artificial.

08 de Maio de 2025 às 20:08
Paulo Dimas Unbabel
Paulo Dimas Unbabel Pedro Ferreira
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A inteligência artificial (IA) é, para muitos, o motor de uma nova revolução tecnológica e económica. Esta foi a convicção unânime dos intervenientes no painel "A Inteligência Artificial numa Europa mais inteligente?", na Grande Conferência de Sustentabilidade organizada pelo Negócios. Num debate carregado de diagnósticos lúcidos e ambições moderadas, cinco especialistas refletiram sobre o papel da Europa — e de Portugal — na arena global da IA, destacando tanto o potencial transformador como os entraves estruturais.

Vanda Jesus, Co-CEO do Dr. Finanças, sublinhou que "o advento da inteligência artificial generativa altera profundamente o paradigma", apontando para uma revolução comparável ao impacto do chip e da internet. Esta transformação poderá ter um efeito imediato e positivo na produtividade, considera. "Se combinarmos melhor qualidade com mais rapidez, há de facto um impacto enorme na produtividade, ao nível individual e das empresas", apontou.

Contudo, os obstáculos europeus são evidentes, desde logo o montante de investimento privado disponível - nos Estados Unidos é de cinco a dez vezes superior ao da Europa. A China, por sua vez, aposta abertamente na supremacia da IA até 2030, com investimentos maciços. "Parece que há recursos ilimitados com esse objetivo", lamentou.

Apesar desse fosso financeiro, os especialistas acreditam que a Europa tem uma vantagem competitiva: o talento. "A Europa tem o melhor talento do mundo", garantiu Paulo Dimas, vice-presidente de inovação de produto da Unbabel. O problema, contudo, é transformar esse talento em valor económico. A Europa "pensa mais em projetos do que em produtos", o que impede a criação de empresas escaláveis à semelhança dos gigantes tecnológicos norte-americanos.

A questão da soberania tecnológica foi outro dos pontos altos do debate. "A maioria das empresas na Europa não utiliza qualquer produto tecnológico europeu no seu dia a dia", lamentou Luísa Ribeiro Teles, destacando uma dependência excessiva de tecnologias importadas, sobretudo dos EUA. Para a presidente do Conselho Direito do .PT, o cenário agrava-se quando se fala em dados. "Mesmo os dados que estão em clouds europeias são geridos por empresas norte-americanas", alertou.

Apesar do cenário exigente, houve espaço para alguma dose de otimismo. Nuno Saramago, CEO da SAP Portugal, destacou o modelo europeu baseado em parcerias e ética. "Não fomos inventar um novo modelo de IA, aproveitámos os hyperscalers existentes e aplicámos os nossos processos de negócio com fiabilidade e segurança", partilhou. O líder salientou ainda que, apesar das limitações, as empresas que se adaptarem rapidamente terão vantagens competitivas. "A velocidade é um fator crítico nos dias que correm", sublinhou.

Carlos Oliveira, presidente do Conselho Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, acredita que a Europa precisa de "players relevantes para gerar valor e podermos ter uma Europa social". Quem quiser ter vantagem competitiva tem de ser "rápido", sob pena de ficar "em dificuldade" se não o fizer a tempo. "Precisamos de novos modelos de negócio não só para usar a IA, mas também mais eficientes e rápidos", insistiu.

No encerramento, destacou-se o papel essencial da formação e do uso consciente da tecnologia. "A IA não vai roubar empregos, vai roubar empregos a quem não souber utilizá-la", afirmou Vanda Jesus, defendendo que "precisamos de levar isto para as escolas, para as empresas e dar acesso à experimentação".

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