As empresas e famílias que investem na transição energética estão a conquistar uma vantagem competitiva no acesso ao crédito. Segundo o mais recente inquérito sobre concessão de crédito na Zona Euro, realizado pelo Banco Central Europeu (BCE), reduzir as emissões de carbono ou melhorar a eficiência energética de um edifício “pode ajudar empresas e famílias a obter empréstimos bancários em condições mais favoráveis”.
O estudo, que analisa trimestralmente a evolução do crédito em toda a área do euro, mostra que a “performance climática das empresas e dos edifícios afeta tanto as condições oferecidas pelos bancos como a procura de crédito”. Na prática, quem investe em sustentabilidade paga menos pelo financiamento, e quem ignora a transição paga mais.
De acordo com o BCE, os bancos estão, de facto, a aplicar o que os autores do relatório descrevem como um desconto climático às organizações que já adotaram práticas verdes ou que estão em processo de transição. “Na pesquisa de julho de 2025, uma percentagem líquida de 20% dos bancos referiu um alívio nas suas condições de crédito para empresas verdes e 13% para empresas em transição”, lê-se num artigo publicado no site do BCE, assinado por Petra Köhler-Ulbrich, Yuma Schuster e Nikoleta Tushteva.
O contraste é evidente quando se trata de empresas poluentes, casos em que o risco climático teve um impacto” negativo nas condições propostas aos clientes – em particular, aqueles com elevadas emissões, que pouco progrediram na transição ou que nem sequer a iniciaram. No total, 35% dos bancos reconheceram agravar as condições de crédito para estas organizações.
O relatório sublinha que, feitas as contas, os bancos europeus estão, efetivamente, a incluir o risco climático no seu processo de avaliação aquando da concessão de crédito, sendo esta uma prática que “faz agora parte da gestão global de risco bancário”.
Entre os fatores mais relevantes na avaliação estão o risco de transição, associado às mudanças necessárias para atingir a neutralidade carbónica, e o risco físico, que reflete o impacto de fenómenos climáticos extremos na atividade das empresas. Ambos, segundo o BCE, “têm exercido um efeito de aperto nas políticas de crédito”.
Os bancos também consideram a eficiência energética dos edifícios na concessão de crédito à habitação, continuam os autores. “Um desempenho energético elevado tem tido um impacto de facilitação nas normas de crédito”, indicam, enquanto “o oposto tem ocorrido em edifícios com fraco desempenho energético”. Mas as expectativas futuras são mais equilibradas, apesar do risco físico das alterações climáticas representar uma preocupação crescente para a banca.
Mercado está a investir no futuro
As analistas do BCE sublinham que “o investimento no desempenho energético dos edifícios tem sido um fator-chave a impulsionar a procura de crédito à habitação”, especialmente em edifícios novos ou recentemente modernizados. Em contrapartida, “as famílias continuam relutantes em pedir crédito para modernizar casas antigas”, e a incerteza quanto à regulação climática futura “tem levado a adiar esses investimentos”.
No caso das empresas, a procura de crédito é maior entre aquelas que apostam em tecnologias limpas ou em reestruturações relacionadas com o clima, beneficiando de “taxas preferenciais de empréstimo e incentivos fiscais”. Já as organizações com maior pegada carbónica registam uma quebra na procura de financiamento, travadas pela “incerteza sobre futuras regras climáticas e condições de financiamento menos favoráveis”.