Um estudo recente revela uma contradição entre perceções e realidade no que toca ao apoio público à ação climática. Os investigadores concluíram que os participantes na sexta sessão da Assembleia das Nações Unidas para o Ambiente (UNEA-6), realizada em 2024, “subestimam, em quase metade, a disponibilidade global do público para contribuir com 1% do seu rendimento pessoal para a ação climática (37% versus 69% na realidade)”.
A investigação, conduzida pela Universidade de Oxford e pelo Center for Climate Change Communication da George Mason University, envolveu 191 delegados de 53 países. Entre os inquiridos estavam representantes governamentais, membros de instituições multilaterais como o Banco Mundial, organizações não-governamentais, académicos e elementos do setor privado.
Os resultados mostram que apenas 18,8% dos participantes conseguiram estimar corretamente, ou acima, a percentagem real de cidadãos dispostos a contribuir. Segundo os autores, “este resultado sugere que aqueles que estão direta ou indiretamente envolvidos na definição de políticas ambientais globais podem ter um mandato público mais forte para ações climáticas ambiciosas do que julgam”.
A discrepância é apontada como parte de um fenómeno conhecido como “ignorância pluralista”, ou seja, a tendência para subestimar o quanto os outros se preocupam ou estão dispostos a agir sobre uma questão. Como apontam os investigadores, “enquanto uma clara maioria de cidadãos globais declara estar disposta a suportar custos pessoais para enfrentar as alterações climáticas, os participantes da UNEA-6 acreditam que apenas uma minoria estaria disposta a fazê-lo” .
Curiosamente, não foram encontradas diferenças significativas entre os decisores políticos e os restantes participantes, nem entre regiões ou instituições. Mesmo indivíduos com elevado conhecimento técnico sobre alterações climáticas apresentaram perceções consideradas enviesadas. “O facto de os delegados da UNEA parecerem subestimar o apoio global à ação climática numa extensão semelhante à do público em geral levanta questões interessantes para investigação futura”, sublinha o estudo.
Para lá da diferença entre perceção e realidade, o risco, avisam os autores, está nas implicações práticas que pode ter essa visão redutora, já que se os negociadores internacionais considerarem que o apoio popular é fraco, a defesa de medidas ambiciosas pode ser diminuída. “Isto significa que os atores políticos podem estar a operar sob a suposição de um mandato público mais frágil do que o real, o que pode afetar o grau de ambição das políticas adotadas”, reforçam.
O estudo recomenda, por isso, que dados atualizados de opinião pública sejam comunicados de forma mais eficaz aos decisores, porque isso “pode afetar o discurso político, as opiniões pessoais e as próprias decisões políticas”. Os investigadores dizem mesmo que “incentivar os responsáveis políticos a agir é crucial para enfrentar a crise climática”, especialmente numa altura de transição para uma economia neutra em carbono.