A sustentabilidade deixou de ser vista como um encargo burocrático para se afirmar, cada vez mais, como um motor de competitividade e investimento entre as empresas europeias. Um novo inquérito da YouGov, pedido pela E3G e realizado em cinco países europeus (França, Alemanha, Espanha, Itália e Polónia), revela que 55% dos líderes empresariais acreditam que tornar-se mais sustentável é essencial para a competitividade do seu negócio. Apenas 21% consideram o contrário.
O estudo, que recolheu respostas de 2.543 gestores, incluindo aqueles responsáveis por pequenas, médias e grandes empresas, deixa claro que a sustentabilidade e o crescimento económico andam de mãos dadas. “Um negócio sustentável é um negócio competitivo”, sublinha o documento.
A relação entre sustentabilidade e reputação é também amplamente reconhecida entre os inquiridos, com cerca de 59% das empresas a afirmarem que as práticas ambientais melhoram a sua imagem e rentabilidade. A proporção sobe para 76% entre organizações de média dimensão e 71% nas de grande dimensão.
Quase metade dos inquiridos (48%) acredita que regras ambientais mais rigorosas dão à União Europeia (UE) uma vantagem de longo prazo face à China e aos Estados Unidos, enquanto 68% defendem que a UE e as empresas europeias devem liderar pelo exemplo, estabelecendo padrões globais de sustentabilidade.
As conclusões surgem num momento em que Bruxelas pondera rever ou simplificar legislação relacionada com o reporte, como a Diretiva sobre Relato de Sustentabilidade Empresarial (CSRD) e a Diretiva sobre Dever de Diligência em Sustentabilidade Empresarial (CSDDD). Mais de 60% dos empresários consideram justo exigir que as grandes empresas adotem planos de transição climática, enquanto 63% rejeitam a ideia de limitar a recolha de dados de sustentabilidade a fornecedores diretos. De uma forma geral, os participantes no estudo reconhecem a importância de abranger toda a cadeia de valor.
Quanto ao âmbito das obrigações, 31% dos líderes preferem que a CSRD se aplique a empresas com 250 ou mais trabalhadores, o número originalmente previsto na diretiva. Além disso, 59% apoiam a recolha e comunicação de dados de sustentabilidade, desde que o processo seja proporcional ao tamanho da empresa.
O inquérito desmonta ainda a ideia de que a desregulação é prioridade para o crescimento económico e menos de 16% dos empresários colocaram a redução de regras ambientais ou de reporte entre as suas cinco prioridades políticas. Já a maioria aponta para o investimento em energia, investigação e infraestruturas como motores de competitividade.
A E3G alerta, contudo, para riscos crescentes de incerteza jurídica que devem ser acautelados. Quase metade dos inquiridos (48%) admite que a indefinição em torno das novas regras europeias está a atrasar decisões de investimento, sobretudo entre empresas de média e grande dimensão.
“Os decisores estão a operar sob a falsa suposição de que as empresas querem livrar-se das regras de sustentabilidade. Este inquérito destrói essa narrativa”, aponta Jurei Yada. O diretor de Finanças Sustentáveis da E3G acrescenta que “as empresas europeias não veem a sustentabilidade como mera burocracia, mas como um verdadeiro motor de competitividade e um campo em que empresas e decisores europeus devem liderar o caminho a nível global”.