As negociações para o primeiro tratado global de combate à poluição causada por plásticos terminaram sem acordo em Genebra, após dez dias de intensas discussões. A incapacidade de encontrar um entendimento comum gerou frustração entre diplomatas e organizações ambientais, que acusam um pequeno grupo de países de bloquear medidas ambiciosas.
O presidente da sessão, o embaixador equatoriano Luis Vayas Valdivieso, anunciou o adiamento das conversações para data ainda indefinida. “Estou enraivecida porque, apesar dos esforços genuínos de muitos e de reais progressos nas discussões, não foram obtidos resultados tangíveis”, apontou a ministra francesa de Ecologia, Agnès Pannier-Runacher, citada pela Reuters. Haendel Rodriguez, delegado da Colômbia, apontou responsabilidades a “um pequeno número de Estados que simplesmente não queriam um entendimento”.
Entre os pontos que causaram maior divisão estiveram a possibilidade de impor limites à produção de plásticos virgens, a gestão de químicos perigosos e os mecanismos de financiamento para apoiar países em desenvolvimento. O embaixador dinamarquês Magnus Heunicke, negociador em nome da União Europeia (UE), sublinhou a gravidade do impasse e considerou “trágico e profundamente dececionante ver alguns países a tentar bloquear” o acordo.
Em Portugal, a associação ambientalista ZERO lamentou o desfecho com um comunicado publicado no site oficial. “Não podemos deixar de assinalar a deceção com a incapacidade de encontrar um entendimento alargado sobre a necessidade de reduzir os impactos negativos da poluição por plástico, mesmo perante tantas evidências científicas”, lê-se. Para a ZERO, a ausência de acordo não deve significar o fim do processo, mas antes um redirecionamento.
“Mais importante do que estarem todos é não parar o processo e não ceder à aprovação de um texto que não traria nada de novo e apenas serviria de cortina de fumo para proteger a indústria fóssil”, consideram os responsáveis.
A organização pede aos mais de 120 países que demonstraram interesse em alcançar um tratado forte, incluindo Reino Unido e UE, a continuar este percurso em conjunto. “É tempo de construir novos caminhos”, defende a ZERO.
Desde 2022, 175 países têm participado neste processo, que tem como objetivo chegar ao fim com a assinatura de um tratado global juridicamente vinculativo. O processo foi marcado pela ameaça dos Estados Unidos aos países que pretendiam aprovar o tratado, garantindo retaliações caso não deixassem cair o documento.
O processo deverá ser retomado em nova ronda de conversações, mas ainda sem data definida.