Enquanto se licenciava em Direito na Universidade de Coimbra dedicava-se a organizar conferências e às artes. Hoje, é um dos poucos rostos no país que acompanhou de perto as transformações políticas, económicas, financeiras, sociais e culturais desde a segunda metade do século passado.
Foi advogado, funcionário público e governante, mas a vida conduziu-o à gestão … E é como gestor que se sente. Emílio Rui Vilar tem 86 anos, foi ex-presidente executivo e não executivo da Caixa Geral de Depósitos e presidente da Fundação Calouste Gulbenkian. É também o convidado da entrevista que marca o lançamento da 6ª edição da iniciativa Negócios Sustentabilidade 20|30.
Numa conversa com vista para os jardins da Gulbenkian, Rui Vilar recordou o percurso feito pelo setor financeiro desde a década de 70 e o período em que liderou o Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa (BESCL), então ainda nacionalizado. Hoje, frisa que a resolução e posterior venda aos franceses do BPCE "foi a solução possível".

"A situação em 2013 era extremamente complicada. O risco sistémico parecia-me evidente. É claro que não havia experiência. [A resolução] foi um medicamento usado pela primeira vez sem ensaios clínicos. Mas, de qualquer maneira, o balanço é de considerar que foi o possível e que acabou por ser positivo", sublinhou na entrevista ao Negócios que amanhã poderá ler na íntegra.
Questionado sobre se a Caixa Geral de Depósitos deve manter-se como banco público, o gestor é categórico. "Faz sentido haver um banco português". E quais os motivos? No seu entender, face ao atual contexto, hoje "a Caixa é o banco português", pela nacionalidade dos acionistas das restantes instituições financeiras. E manter a decisão em mãos e capital nacionais é relevante, sublinha, "por uma questão de soberania".
"Embora façamos parte de uma UE e tenhamos partilhado parte da nossa soberania, faz parte da nossa identidade. É um elemento de soberania que funções fundamentais da sociedade sejam asseguradas por portugueses e por pessoas que conhecem a nossa sociedade", rematou.
Já sobre a não recondução do governador Mário Centeno à frente do Banco de Portugal (BdP), Rui Vilar foi mais parco em palavras - até porque mantém funções como presidente da Comissão de Ética do supervisor -, lembrando que "é um processo legal", até "porque não existe nenhuma regra de que o governador deva ser reconduzido". "Aliás, o BCE não disse uma palavra."
Esta é uma entrevista que marca a estreia da 6.ª edição da iniciativa Negócios Sustentabilidade Negócios 20|30, que poderá ler na íntegra na edição de quarta-feira do Jornal de Negócios.
Percurso com muitas funções em diferentes momentos da vida
Emílio Rui Vilar nasceu no Porto a 16 de maio de 1939 e licenciou-se em Direito em Coimbra onde fundou o círculo de artes plásticas e o CITAC, que ainda hoje existem. … Após o 25 de Abril participou nos primeiros, segundo e terceiros governos provisórios na área da economia, primeiro como secretário de Estado e depois como ministro da Economia.
Mais tarde, com Mário Soares no I Governo Constitucional, foi ministro dos Transportes, mas nunca mais regressou à política. Foi vice-govenador do Banco de Portugal entre 1975 e 1985, ali enfrentando a primeira e a segunda intervenção do FMI. Liderou a CGD de 1989 a 1996 e a si se deve a Culturgest.
Voltou mais tarde ao banco público, após uma passagem por Bruxelas e entre 2016 e 2021, como vice-presidente e presidente não executivo. Esteve à frente da Galp e liderou a Fundação Calouste Gulbenkian de 2002 a 2012.
Hoje, com 86 anos, é presidente da Comissão de Ética do Banco de Portugal, Senior Advisor da Fundação Calouste Gulbenkian, membro da Europa Nostra e presidente do Conselho Fiscal da Universidade Católica e do Conselho de Fiscalização da Fundação da Universidade Católica.