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Há 300 mil empregos em risco por causa da transição climática, aponta estudo

Relatório divulgado pelo CoLABOR revela que postos de trabalho ligados a setores com mais emissões podem sofrer transformações profundas. Autores pedem mais investimento em qualificação e proteção social.

26 de Novembro de 2025 às 15:30
IEFP, pessoas, desemprego
IEFP, pessoas, desemprego João Cortesão
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Um novo relatório do laboratório colaborativo CoLABOR estima que “entre 126 mil e 300 mil empregos possam vir a sofrer transformações profundas, tanto em número como em conteúdo funcional”. Estes postos estão concentrados em atividades com fortes emissões, onde predominam trabalhadores mais velhos, com baixas qualificações e salários reduzidos.

O estudo analisa a transição justa a partir dos chamados empregos verdes e castanhos. Os primeiros “contribuem direta ou indiretamente para uma economia de baixo carbono ou carbono líquido zero”, enquanto os segundos inserem-se em categorias socioprofissionais vulneráveis aos impactos das políticas de ação climática. Em 2023, escrevem os autores, havia 463,4 mil trabalhadores em empregos verdes (13,1% do total), mas o seu peso recuou face a 2010, apesar do crescimento em termos absolutos. São também estas profissões, novas e emergentes, aquelas que apresentam os níveis remuneratórios médios mais elevados (1.932 euros).

Do lado castanho, o relatório revela que “80% do emprego está associado a apenas 15% das emissões, enquanto 20% concentra 85% do total”. Um conjunto reduzido de profissões torna-se, desta forma, particularmente exposto às políticas de descarbonização, seja por perda de postos de trabalho, seja por uma mudança profunda das funções desempenhadas.

Os autores sublinham que a transição não é apenas risco e conclui que “a transição para uma economia de baixo carbono, embora produza novas vulnerabilidades, constitui também uma oportunidade económica de grande escala”. Mas essa oportunidade só se concretiza, defendem, com investimento consistente, qualificação da mão de obra e políticas robustas de formação, reconversão profissional e proteção social, para evitar o agravamento das desigualdades.

Portugal atingiu um máximo histórico de 5,3 milhões de pessoas empregadas no terceiro trimestre de 2025, mas os autores dizem que, ao contrário do que se vai repetindo, continua longe do pleno emprego. A taxa de desemprego ronda os 6%, o desemprego jovem chega aos 18,8% e mais de meio milhão de trabalhadores está no que o relatório considera uma situação de subutilização. “É excessivo considerar que o país se encontra próximo” do pleno emprego, lê-se.

Na proteção social, o estudo lembra que a despesa pública continua abaixo da média europeia e com forte peso das pensões, responsáveis por 57% das prestações sociais em 2024. Já o apoio ao desemprego deixa de fora cerca de 60% das pessoas sem trabalho.

Num contexto em que a intensidade da pobreza voltou a subir cerca de quatro pontos percentuais entre 2021 e 2023, os autores avisam que as opções atuais “estão a aprofundar desigualdades entre instrumentos de proteção social e entre grupos sociais e etários”. A transição climática, concluem, só será verdadeiramente justa se não deixar para trás quem já hoje está mais vulnerável no mercado de trabalho.

O relatório foi apresentado esta quarta-feira durante as Jornadas CoLABOR, que juntaram peritos e decisores na Fundação Calouste Gulbenkian.

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