"Teremos sempre Paris", diz Rick Blaine para Ilsa, antes desta apanhar o avião, na cena final de "Casablanca". Em Paris guardam-se as memórias de ambos. Mas hoje, depois de dois atentados devastadores, contra a redacção do "Charlie Hebdo" e, indiscriminadamente, contra todos aqueles que gozavam os prazeres que a noite de Paris oferece, que sobra das memórias globais e multiculturais da capital francesa? "Paris sera toujours Paris", cantava Maurice Chevalier. Canções e humor são coisas que a ideologia que sustenta o Estado Islâmico, ou Daesh, não suporta. Contra a liberdade usa o medo. E esse é o primeiro passo, através da violência, para mudar o estilo de vida do Ocidente. Que passará a ser mais intolerante, mais vigiado, menos aberto, menos democrático. E é aí que interesses aparentemente divergentes se unem: o Estado Islâmico é o lado visível de muitas outras forças negras que querem que Paris, símbolo de tantas outras cidades, deixe de ser a cidade da luz. E do Iluminismo.