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Uma casa digital para os livros

O veterano especialista de livros raros Bernard Shapero colocou todo o seu espólio numa plataforma digital, realizando uma operação que reabre a cobiça dos amantes deste bem de enorme valor.

27 de Outubro de 2018 às 09:00

É verdade que hoje já é mais difícil sentir aquela tensão simpática que se apoderava do explorador ao entrar no antiquário de livros raros. Apoderava-se dele, em Lisboa, Londres, Paris ou Nova Iorque, um certo espírito de que poderia estar a segundos de um grande momento, o momento da descoberta do tesouro. Raramente acontecia, claro, encontrar o tesouro eternamente procurado, o da primeira edição qualquer de um livro que faz parte da história pessoal do explorador. Quando acontecia, era uma festa silenciosa, que não se consegue partilhar, porque na verdade era apenas a concretização de sentimentos tão imateriais como desejo concretizado e posse atingida. Nos dias que correm, é um pouco mais difícil encetar sequer o princípio do caminho de exploração, porque, acossado por tantas tecnologias e bens, o livro como que está encoberto no manto de objecto secundário.

No entanto, há subversões curiosas a acontecer neste território do livro raro e antigo. Uma das últimas, e mais interessantes, é a da reconversão tecnológica de uma das casas mais prestigiadas deste campo, a londrina Shapero, criada em 1979 por Bernard Shapero. A casa avançou agora com a sua plataforma digital, acessível em www.shapero.com, e a verdade é que, de um modo extremamente curioso, o movimento funciona. As razões para que tal esteja a acontecer são extremamente simples. A casa digital permite partilhar todo o incrível espólio de livros, mapas e ilustrações da Shapero. O inventário vai das secções universalmente fortes, romance clássico, romance contemporâneo e história natural, até outras mais de nicho, como é a história do judaísmo ou a produção literária sobre o Ártico. Depois, a plataforma é bem usada pela Shapero. Cada exemplar partilhado, de um livro a um mapa, é minuciosamente descrito, incluindo o preço, as características do bem e a sua importância cultural. Este duplo alinhamento da partilha dos bens desperta novamente os sentimentos do explorador. Numa descrição muito simples, desperta-lhe primeiro a curiosidade de observar "online" os bens. Mas, depois, desencadeia nele a vontade de ir a Londres, para encontrar, tocar e folhear os livros. É, sem dúvida, uma operação cumprida, a da Shapero.

Nota ao leitor: Os bens culturais, também classificados como bens de paixão, deixaram de ser um investimento de elite, e a designação inclui hoje uma panóplia gigantesca de temas, que vão dos mais tradicionais, como a arte ou os automóveis clássicos, a outros totalmente contemporâneos, como são os têxteis, o mobiliário de design ou a moda. Ao mesmo tempo, os bens culturais são activos acessíveis e disputados em mercados globais extremamente competitivos. Semanalmente, o Negócios irá revelar algumas das histórias fascinantes relacionadas com estes mercados, partilhando assim, de forma independente, a informação mais preciosa.

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