Uma prancha de Skate contra Trump
Um projecto de dois artistas de topo no mercado global mostra que a arte continua envolvida na luta política e que a prancha de skate é cada vez mais um bem a ter em conta pelos investidores.
Donald Trump pode ser combatido com uma prancha de skate. Ou, sendo mais pormenorizado, Trump pode ser combatido pela arte fixada numa prancha de skate. Pelo menos é esta a crença de dois dos mais mediáticos artistas contemporâneos, Ai Weiwei e Shepard Fairey, e de duas plataformas virtuais de venda de arte, a Artspace, www.artspace.com, e a The Skateroom, www.theskateroom.com.
Os artistas e os galeristas referidos criaram duas séries limitadas a partir de trabalhos seus, Ai Weiwei com fotografia, Shepard Fairey com pintura, que fixaram em pranchas de skate. Cada uma das peças ronda os mil euros, e está agora disponível para venda nas duas plataformas. Há várias dimensões interessantes a anotar neste projecto. A primeira é obviamente a da renovação da arte como instrumento de luta e activismo político.
Declaradamente anti- Trump, Ai e Fairey, como a esmagadora maioria dos seus pares no mundo inteiro, acreditam terem a missão de impedir o mundo de esquecer quem é Trump e como é perigoso tê-lo como líder americano. Assim, os trabalhos dos dois artistas são particularmente fortes na mensagem anti-Trump, especialmente o do criador chinês, aliás desde sempre envolvido na luta política, que é um dos sustentáculos do seu trabalho.
Uma segunda dimensão é a do preço reduzido das peças, mesmo estando em causa uma série, se tivermos em conta que são dois artistas com cotação alta, e o momento actual do mercado global de arte. Ou seja, há uma intenção dos criadores e das galerias de tornar as peças acessíveis, em nome, exactamente, do objectivo político da iniciativa. Mas talvez a dimensão mais curiosa seja a da validação da prancha de skate como superfície de arte.
É claro que na origem está a própria estrutura do objecto, a prancha permite a fixação e exibição de arte, mas o mais importante é que o skate conseguiu nunca ser apenas classificado como desporto ou actividade, mantendo um estatuto cultural de prática subversiva, de prática de combate a valores, normas e culturas dominantes.
É este estatuto que tem levado a que haja vários movimentos que fixam a prancha não só como a ferramenta da prática, mas como um objecto onde pode ser impressa uma manifestação. Temos assim os pintores de pranchas que pintam objectos únicos ou séries muito limitadas, "writers" de "street-art" que apostam no meio, e artistas visuais que procuram a prancha como uma superfície alternativa para alguns dos seus projectos.
Como demonstram os vários exemplos que têm surgido nos últimos anos, se assim é, então a prancha de skate é a superfície ideal para criar arte e expressar e partilhar uma ideia. O que este movimento provocou, nos últimos anos, é que, no mercado global, a prancha passou de objecto totalmente periférico a bem a ser tido muito em conta pelo mercado. É uma evolução notável, claro.
Nota ao leitor: Os bens culturais, também classificados como bens de paixão, deixaram de ser um investimento de elite, e a designação inclui hoje uma panóplia gigantesca de temas, que vão dos mais tradicionais, como a arte ou os automóveis clássicos, a outros totalmente contemporâneos, como são os têxteis, o mobiliário de design ou a moda. Ao mesmo tempo, os bens culturais são activos acessíveis e disputados em mercados globais extremamente competitivos. Semanalmente, o Negócios irá revelar algumas das histórias fascinantes relacionadas com estes mercados, partilhando assim, de forma independente, a informação mais preciosa.
Mais lidas