Principais bancos portugueses não prevêem adoptar moedas digitais nem as recomendam
"É uma ideia que se baseia no desenvolvimento do 'blockchain' [tecnologia que permite guardar dados de forma descentralizada e privada], mas que não tem reserva de valor nem universalização e, por isso, é desaconselhada por nós", disse o presidente executivo do Novo Banco, António Ramalho, falando em Lisboa na conferência "Banca & Seguros: O Futuro do Dinheiro", organizada pelos meios TSF e Dinheiro Vivo e pelas empresas Iberinform Crédito y Caución e Sage.
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Posição semelhante demonstrou Miguel Maya, vice-presidente da comissão executiva do Millennium BCP, que argumentou que a moeda digital (dinheiro armazenado na internet para ser usado em transacções) é "um activo que o banco tem muita dificuldade em valorizar".
Por isso, "não está previsto" adoptar tal tecnologia, nem a "recomendam aos clientes", acrescentou, intervindo num debate com outros responsáveis de bancos nacionais.
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Miguel Maya notou, contudo, que este é "um tema complexo", manifestando "preocupação porque as pessoas investem sem ter consciência do que estão a fazer".
Também a Caixa Geral de Depósitos (CGD) "ainda não" prevê ter moedas digitais, de acordo com o administrador executivo José João Guilherme.
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Além disso, "não conhecemos suficiente para recomendar aos nossos clientes e não podemos recomendar coisas que não conhecemos profundamente", referiu.
Luís Pereira Coutinho, presidente executivo do Banco dos Correios de Portugal (CTT), disse "não estar nada previsto para 'criptomoedas'" naquela instituição.
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Antes, o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, sublinhou que "criptomoedas são activos, não são moedas, são activos cujo valor pode oscilar em função do subjacente e em função da crença que participantes do mercado têm no seu valor futuro".
O responsável máximo do regulador e supervisor bancário disse ainda que os bancos centrais estão a trabalhar na emissão de moeda digital, mas afirmou que "não é por ser digital que é moeda, mas porque tem curso legal e poder que garante todas as qualificações de moeda".
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Na conferência, os responsáveis frisaram ainda a necessidade de adoptar soluções digitais para aumentar a interacção com os clientes, bem como para reduzir custos.
No Banco CTT isso ganha maior dimensão porque, de acordo com o presidente da instituição, "cerca de 40% da base de clientes são 'millennials'", isto é, jovens da geração da internet.
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Esta percentagem verifica-se porque, a seu ver, naquela instituição existem, por exemplo, soluções de "desintermediação, sendo possível os clientes irem comprar produtos sem passar pelos bancos".
De acordo com António Ramalho, do Novo Banco, a "democratização tecnológica coloca grandes desafios aos bancos".
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Ainda assim, este responsável destacou que "os bancos não têm nenhuma razão para não estar na linha de partida e mesmo na linha de chegada".
Aludindo às chamadas 'fintech', empresas tecnológicas que prestam serviços financeiros, António Ramalho afirmou serem "os maiores parceiros que a banca tem" na área da digitalização, e salientou a importância da "cooperação e colaboração" na área digital.
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Por seu lado, "o nosso maior risco são as 'bigtech' [gigantes tecnológicas]", que "podem aceder à base de dados dos clientes" e oferecer serviços mais personalizados como sistemas de pagamentos próprios, enquanto a "banca está limitada", adiantou António Ramalho.
(Notícia actualizada às 14:30)
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