Desde 2000, e até ao ano passado, Portugal importou da Rússia cerca de 17 milhões de toneladas de petróleo bruto, mostram os dados da Direção-Geral de Energia e Geologia. No entanto, não o faz desde 2019, o último ano em que o país comprou crude ao regime do Presidente Vladimir Putin, que este ano decidiu declarar guerra à Ucrânia e, como consequência, enfrenta agora um embargo europeu às importações por via marítima. No entanto, os países europeus que recebem o petróleo russo apenas por oleoduto, e não tenham outra alternativa, poderão continuar a fazê-lo.
Do pacote de sanções de Bruxelas faz ainda parte a imposição de um tecto máximo de 60 dólares por barril ao preço do petróleo que ainda for comprado pelas empresas europeias ao Kremlin. A partir de fevereiro de 2023 a União Europeia irá ainda mais longe e proibirá todas as importações de produtos refinados provenientes da Rússia. Pelas contas de Bruxelas, este embargo afetará diretamente 90% das exportações russas de petróleo e respetivos produtos refinados para a Europa.
Na opinião de António Comprido, secretário-geral da Apetro - Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas, "à partida, o embargo ao petróleo russo não terá impacto direto em Portugal, porque é um país de onde já não importamos" há alguns anos. No entanto, os impactos poderão chegar por via indireta. "Em termos de abastecimento não há qualquer risco. O que mexe são os preços", avisou, em declarações ao Negócios.
E sublinha: com esta decisão de Bruxelas "todo o mercado mexe, os fluxos alteram-se e a Rússia em vez de vender petróleo à Europa vai fazê-lo à China e à Índia, que também são grandes consumidores mundiais, a preços com descontos".
Nos mercados mundiais, "Portugal é um mero tomador de preços" e está à mercê das oscilações. "Ainda é cedo para fazer previsões para a 2023, mas a Agência Internacional de Energia já veio dizer que por causa deste embargo os preços do petróleo podem subir", frisou António Comprido.
No passado, Portugal importou petróleo bruto da Rússia entre 2001 e 2004 (pouco mais de quatro milhões de toneladas), interrompendo depois as compras em 2005, que foram retomadas por pouco tempo (e volume) em 2006 e depois travadas até 2010.
Aí sim começou a "década de ouro" das importações portuguesas de petróleo russo. Em 10 anos, o país comprou quase 13 milhões de toneladas de crude à potência do Leste, sendo 2017 o ano mais "forte", com 3,5 milhões de toneladas importadas da Rússia, que pela primeira vez destronou Angola como principal fornecedor. O mesmo aconteceu em 2018, mesmo com as importações da Rússia a reduzirem para 2,5 milhões, mas ainda assim acima dos dois milhões de toneladas de Angola. Em 2019, a Rússia ainda assegurou 1,2 milhões de toneladas, e foi o quarto maior fornecedor, depois de Angola, Azerbaijão, e Arábia Saudita.
"Portugal tem um bom mix de importações de petróleo porque recebe a matéria-prima por navio, via porto de Sines. O seu mercado é o mercado mundial. Não está dependente de um único fornecedor que está do outro lado de um oleoduto, como acontece com alguns países". Em 2021, Portugal importou 9,4 milhões de toneladas de petróleo (numa tendência de queda que se verifica desde 2017, quando o país comprou um recorde 14,1 milhões) de 10 países diferentes, sendo o Brasil o maior fornecedor, com 3,6 milhões de toneladas. Segue-se, por ordem de importância, a Nigéria, Azerbaijão, EUA, Noruega, Guiné Equatorial, República do Congo, Arábia Saudita, Argélia e Angola. A Petrogal, do Grupo Galp, é o único comprador nacional. O crude é refinado em Sines e comprado depois, na forma de gasolina, gasóleo, jet fuel e derivados. Portugal também importa derivados e até 2021 a Rússia ainda foi fornecedora.