Fitch ameaça Bélgica com corte de "rating"
Impasse político de um ano e possibilidade de isso afectar a consolidação orçamental conduziu ao corte da recomendação, embora a notação financeira se mantenha no segundo nível mais alto para a Fitch.
O “rating” da Bélgica mantém-se com AA+, o segundo nível mais alto, embora esteja sob vigilância “negativa”, quando até hoje estava num nível “estável”. A Bélgica parece voltar, assim, a ser uma das personagens da crise da dívida soberana. Até há uns meses atrás, a sua situação política colocava-a como uma possível candidata a um resgate, logo atrás de Portugal e Espanha. Nessa altura, o auxílio a Portugal era ainda uma eventualidade não concretizada.
A agência de notação financeira considera que o risco político na Bélgica é mais alto do que em qualquer país da Zona Euro. A nação tem sido liderada por Ives Leterme (na foto), o primeiro-ministro da força governamental que estava no poder antes das eleições antecipadas do ano passado. Depois do sufrágio, Leterme ficou como líder sob gestão até que se chegasse a um acordo para um novo Executivo, o que ainda não aconteceu.
Contudo, no seu relatório, a Fitch indica que a indefinição não será razão para colocar em causa as metas do défice orçamental para 2011, que é de 3,6% do PIB, abaixo dos 4,1% do ano passado. Avisa, no entanto, que “a derrapagem face às metas do défice oficiais vai resultar, provavelmente, numa descida do ‘rating’”.
“Sem um acordo político sobre a reforma constitucional, será difícil alcançar um orçamento equilibrado”, devido à distância linguística e cultural entre as várias regiões. “Uma redução sustentada da dívida vai exigir uma reforma e uma disciplina orçamentais nos próximos anos, o que, em troca, obriga a um novo governo com um novo mandato”, escreve a agência.
A dívida da Bélgica sobre o PIB é a terceira maior da Zona Euro (96,6%), apenas atrás da Grécia e da Itália, segundo a Bloomberg. Isso deixa uma margem de manobra reduzida ao governo na eventualidade de momentos adversos.
Hoje, a Bélgica realizou um leilão de dívida a vários prazos no valor de 3,39 mil milhões de euros. Na emissão a dois anos, o país conseguiu financiar-se a um juro médio inferior ao exigido no anterior leilão comparável e abaixo das “yields” pedidas no mercado secundário no momento.
A Standard & Poor’s já tinha baixado o “outlook” da dívida belga para “negativo” no mês de Dezembro, caso o impasse político não chegasse ao fim e colocasse em causa a estabilização da dívida, ao que se segue agora a Fitch.
A nova consideração desta última agência acontece no dia em que a Standard & Poor’s decidiu colocar sob vigilância “negativa” a dívida da Itália, também esta uma economia considerada ameaçada pela crise da dívida soberana, que já levou ao resgate financeiro de três países da Zona Euro (Grécia, Irlanda e Portugal).
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