"Vivemos tempos difíceis"
No dia 5 de Outubro deste ano, marcado pela crise financeira global, o Governo ficou a saber que o Presidente considera que não se está a ter uma visão realista dos problemas que os portugueses estão a enfrentar nem se está a preparar o país para os tempos difíceis que aí vêm. O primeiro-ministro, logo após a intervenção de Cavaco Silva, afirmou que o Governo tem adoptado medidas para apoiar os mais desfavorecidos.
O Presidente da República começou por descrever um país de dificuldades. "Muitas famílias têm dificuldades em pagar os empréstimos que contraíram para comprar as suas casas. Há idosos para quem a reforma mal chega para as despesas essenciais. Há jovens que buscam ansiosamente o seu primeiro emprego. Há homens e mulheres que perderam os seus postos de trabalho.
" E conclui esta descrição dizendo: "O que é vivido pelos cidadãos não pode ser iludido pelos agentes políticos."
Mais adiante, já no fim da sua intervenção e depois de dizer que as prioridades da agenda política têm de ser o crescimento acima da média europeia, o Presidente volta a fazer um apelo a que não se iluda os portugueses. "A verdade gera confiança, a ilusão é fonte de descrença."
Ficou ainda pela voz do Presidente aquelas que devem ser as prioridades públicas. "O Estado tem de garantir dois valores essenciais, a justiça e a segurança. Deve promover o acesso de todos aos cuidados de saúde, como deve oferecer um ensino de qualidade e uma rede de protecção social que proteja os cidadãos nos momentos difíceis da vida", afirma, para acrescentar que "o Estado nunca deve esquecer aqueles que têm muito pouco."
Não é a primeira vez que Cavaco Silva faz este alerta. Na sua visita a Nova Iorque, o Presidente disse aos jornalistas que Portugal enfrentava tempos difíceis e em entrevista à RTP defendeu que o Orçamento do Estado de 2009 deve preocupar-se com as pessoas afectadas pela crise financeira internacional e disse estar preocupado com os seus efeitos "sobre o crescimento económico e sobre o emprego".
O Governo e a crise
Desde o início da crise financeira que o Governo tem evitado falar no assunto. Primeiro, há um ano, recusou os seus efeitos. Mais recentemente admitiu que teria impacto em Portugal mas tem sido parco em declarações desde que o abalo com origem nos Estados Unidos se abateu com mais violência na Europa, no início da semana passada.
Excepção feita à afirmação dramática do ministro da Economia, logo de seguida corrigida, em que afirmou que os tempos de prosperidade tinham terminado, as declarações e informações têm sido limitadas e de circunstância.
No primeiro debate quinzenal o primeiro-ministro não tomou a iniciativa de falar do tema e só foi questionado pelos partidos à sua esquerda, o PCP e o Bloco de esquerda. Na semana passada a principal declaração coube ao ministro das Finanças mas na conferência de imprensa que se seguiu ao Conselho de Ministros e onde foi aprovado um pacote de medidas de reforço das regras de regulação e de sanções em casos de crimes de mercado.
Durante o fim de semana o jornal Expresso deu conta da existência de um plano de emergência e de reuniões com os supervisores mas o Governo não formaliza estas informações como aliás se pode ler na declaração do ministro das Finanças.
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