UE garante a Lula que haverá acordo com Mercosul em janeiro
A carta, datada de sexta-feira, foi divulgada hoje pela Presidência brasileira do Mercosul.
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A União Europeia (UE) comprometeu-se, numa carta enviada ao Presidente brasileiro, Lula da Silva, a assinar o acordo de comércio livre com o Mercosul no início de janeiro, após divergências internas que impediram a assinatura já hoje.
A carta, datada de sexta-feira, foi divulgada hoje pela Presidência brasileira do Mercosul, durante a cerimónia de abertura da cimeira da organização sul-americana em Foz de Iguaçu, no sul do Brasil.
"Gostaríamos de expressar o nosso firme compromisso em prosseguir com a assinatura do Acordo de Associação e do Acordo Provisório de Comércio no início de janeiro, em data a acordar entre as partes", afirmaram na carta a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o presidente do Conselho Europeu, António Costa.
As autoridades europeias lamentaram que os acordos não tenham sido assinados neste sábado, conforme o previsto, e justificaram o atraso com procedimentos internos do Conselho ainda não finalizados.
Os líderes comunitários acrescentaram que estão a trabalhar intensamente para concluir estas etapas o mais rapidamente possível e reafirmaram o seu compromisso com a assinatura dos acordos, que descreveram como fundamentais para o reforço dos laços políticos, económicos e estratégicos entre as duas regiões.
"Estamos confiantes de que a conclusão célere deste processo reforçará os nossos compromissos partilhados e gerará clareza e confiança para todas as partes interessadas", afirmaram von der Leyen e Costa na carta dirigida a Lula da Silva, a quem agradeceram pelos esforços visando a assinatura do entendimento entre os dois blocos.
Na cerimónia de abertura da Cimeira do Mercosul, o Presidente brasileiro comentou que "o mundo está ávido" de acordos com o bloco sul-americano, defendendo que, enquanto aguarda a resolução das divergências europeias, a organização deverá continuar a negociar com outros parceiros comerciais.
Lula da Silva referiu que vários países estão interessados em acordos comerciais com o bloco formado pela Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, e que o Mercosul deve aproveitar esta oportunidade para concretizar o máximo de entendimentos.
"Espero que tenhamos seis meses de bons acordos internacionais", declarou o Presidente do Brasil, que vai transferir hoje a presidência rotativa do Mercosul para o Paraguai.
Embora o Conselho Europeu tenha anunciado na quinta-feira que não tinha o apoio necessário para aprovar a assinatura do entendimento já hoje, tendo proposto adiá-la para 12 de janeiro no Paraguai, os chefes de Estado dos quatro países do Mercosul confirmaram a sua presença na cimeira.
No seguimento do adiamento europeu, o Presidente paraguaio, Santiago Peña, instou hoje, durante a cimeira, o Mercosul a "enviar um sinal", finalizando os acordos com outros países
Peña defendeu em concreto a finalização de acordos com os Emirados Árabes Unidos e Singapura, cujas negociações estão "mais próximas" da conclusão, e destacou ainda uma "grande oportunidade" para fechar entendimentos com países da Ásia oriental e central.
"Continuaremos a aguardar no altar, mas não podemos esperar apenas pela União Europeia. Há muitos países e regiões com os quais estamos mais perto de um acordo", declarou Peña, antes de receber a presidência rotativa da organização.
No seu discurso, o Presidente paraguaio afirmou que o "presente e o futuro" do Mercosul "exigem ousadia e pragmatismo", apelando para ações que promovam a "integração profunda" da região com investimentos em energia, hidrovias e conectividade digital.
Peña referiu ainda que o Paraguai "quer ser protagonista, o centro da integração latino-americana", mas ao mesmo tempo pediu ao Brasil e à Argentina que assumam uma posição de liderança devido à sua localização geográfica e à dimensão das suas economias.
Na abertura da cimeira, o Presidente argentino, Javier Milei, defendeu pelo seu lado a redução da tarifa externa comum e a flexibilização do bloco sul-americano, permitindo negociações individuais entre os seus membros.
Segundo o líder argentino, quando o Mercosul negoceia em conjunto, "os processos arrastam-se e perdem-se oportunidades", dando como exemplo o acordo com a União Europeia.
Milei alertou também que as tarifas externas do Mercosul "estão entre as mais altas do mundo" e, por isso, destroem empregos.
"A região precisa de uma tarifa moderna, simples e competitiva, alinhada com as práticas dos blocos dinâmicos do século XXI. Caso contrário, continuaremos condenados a crescer abaixo do resto do mundo", apontou o Presidente argentino, reforçando o seu apelo para a promoção de acordos individuais entre os estados-membros e parceiros externos do Mercosul.
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