Semana de 4 dias: Como vai funcionar a experiência?
Sem cortes salariais, sem apoios do Estado, e com alguma redução de horário. O projeto-piloto arranca no próximo ano para as empresas que quiserem. O nível de adesão é nesta fase uma das principais dúvidas.
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1. Já é possível trabalhar quatro dias?
Sim, já é possível trabalhar a tempo completo apenas quatro dias por semana, mas em regra se o empregador quiser. A legislação só define o período máximo, não mínimo. E estabelece mecanismos de concentração do horário semanal, que permitem, por exemplo, dividir as 40 horas em quatro dias (dez horas por dia). Também permite acordos para a redução do tempo de trabalho (trabalho a tempo parcial) que por regra têm envolvido reduções salariais.
2. O governo vai reduzir os horários em geral?
Nos últimos anos, o PS tem rejeitado todas as propostas para reduzir o tempo de trabalho (semana máxima de 40 horas) e não há nenhum compromisso no sentido de uma redução geral. De acordo com a CIP isso não está em cima da mesa. O que está em causa é um projeto-piloto a ser lançado no próximo ano, à semelhança do que se fez noutros países.
3. O que vai acontecer então?
Uma experiência-piloto de adesão voluntária por parte das empresas, e reversível. O documento que serviu de base à reunião desta quarta-feira de concertação social explica as três características essenciais: não pode envolver corte salarial, tem de implicar uma redução de horas semanais, e não tem apoios financeiros no Estado. O Estado dá, no entanto, "suporte técnico e administrativo para apoiar a transição", através de um serviço especializado em assessorar as empresas.
4. Como será decidido o período de trabalho?
O documento explica que, dado que não há apoios, "não será estipulado um número de horas semanais exatas, que podem ser 32 horas, 34, horas, 36 horas, definidas por acordo entre a gestão e os trabalhadores". Quando os contratos são de 35 horas o número máximo tem de ser 34 por semana, segundo a ministra, e sempre sem aumento mensal. Ao deixar o número de horas em aberto o modelo do Governo admite que nalguns dias seja necessário trabalhar mais do que hoje (para garantir os limites semanais). Admitem-se adendas aos contratos.
5. Que empresas podem participar?
O documento que serviu de base à reunião de concertação social desta quarta-feira explica que a experiência-piloto que avança em junho "será aberta a todas as empresas (do setor privado) que desejem participar". Na explicação do projeto, que será coordenado por Pedro Gomes, o economista que escreveu o livro "Sexta-feira é o novo sábado", defende-se que a decisão de não atribuir apoios "garante que todo o interesse [das empresas] é genuíno." A experiência "tem de envolver a grande maioria" dos trabalhadores, exceto para grandes empresas "onde pode ser testado em apenas alguns estabelecimentos ou departamentos".
6. Quando avançam as diferentes fases?
O cronograma prevê que até ao final do janeiro decorra a fase de manifestações de interesse das empresas. Depois, até maio, a seleção das empresas e preparação da experiência-piloto. De junho a novembro do próximo ano, a experiência-piloto propriamente dita de seis meses. Dezembro de 2023 será o mês do "período de reflexão", em que a gestão vai refletir sobre a experiência e determinar se mantém os quatro dias, volta à de cinco, ou escolhe um sistema híbrido.
7. Quantas empresas podem participar?
Não foi divulgado um número máximo, mas o projeto pode ter diferentes contornos consoante a adesão. Se forem até 40 empresas todas serão incluídas no piloto. Se o número for maior podem ser constituídos grupos, um deles de controlo.
8. É obrigatório para os trabalhadores?
A ministra do Trabalho, Ana Mendes Godinho, disse que a adesão do trabalhador é voluntária. Mas como a decisão é do empregador, fica por explicar como é que, aderindo, uma empresa pode abranger apenas os trabalhadores que o desejarem e, mesmo assim, testar plenamente as vantagens do novo modelo, sem complicar a reorganização.
9. O que será avaliado?
Do lado dos trabalhadores, os efeitos no bem-estar, qualidade de vida, saúde mental e saúde física, grau de compromisso com a empresa, satisfação no trabalho e vontade de permanecer. Será também estudado o uso do tempo nos dias de descanso ou reduções nos custos de transporte ou serviços de apoio doméstico. Nas empresas, o foco é na produtividade, competitividade, custos intermédios e lucros, taxa de absentismo, recrutamento, reorganização interna, indicadores financeiros e não financeiros (queixas de sete dias/utentes), acidentes de trabalho e consumo de bens intermédios como matérias-primas e energia.
10. A função pública?
O documento refere que o setor público fica, eventualmente, para uma "segunda fase" por questões jurídicas e orçamentais.
11. Que empresas estão interessadas?
O Governo garante que já há interessados, sobretudo nos serviços, incluindo uma empresa de grande dimensão, mas não disse quantos.
12. Como reagiram os parceiros sociais?
As confederações patronais consideraram que o tema é inoportuno face às preocupações sobre a concretização do acordo de concertação social ou sobre os problemas económicos dos próximos meses. Tanto a CIP como a CCP não excluem que o tempo de trabalho evolua no futuro, mas consideram que não é a altura ideal para discutir um projeto-piloto. "É num momento de tsunami estar a discutir a seca", disse António Saraiva, da Confederação Empresarial (CIP). Francisco Calheiros, da Confederação do Turismo (CTP) disse que tendo em conta um impacto de 20%, para início de conversa, o razoável seria um contributo de sete pontos das empresas, sete dos trabalhadores e sete do Estado. Só que os trabalhadores "não perdem nem um cêntimo" e o Estado "não contribui com rigorosamente nada". A UGT concordou com o projeto e a CGTP defendeu que importante é reduzir o limite máximo de 40 para 35 horas semanais.
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