Broadcom desiste de fábrica de microchips em Espanha após negociações falhadas
A gigante norte-americana terá abandonado o projeto de mil milhões de dólares, numa altura de tensão entre os EUA e a União Europeia. A decisão enfraquece o esforço europeu de crescimento no setor dos semicondutores.
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A norte-americana Broadcom terá desistido de instalar uma fábrica de microchips em Espanha, encerrando discretamente um dos projetos mais emblemáticos do plano espanhol para reforçar a sua autonomia tecnológica. O investimento, estimado em cerca de mil milhões de dólares (cerca de 855 milhões de euros ao câmbio atual), previa a construção de uma unidade de produção “back-end”, dedicada à montagem e testes de semicondutores, e foi apresentado pelo Governo como estratégico para posicionar Espanha no centro da indústria europeia dos chips.
A informação foi avançada pela agência Europa Press, que cita fontes próximas do processo. Nem a empresa nem o Ministério para a Transformação Digital comentaram oficialmente, mas o silêncio prolongado nos últimos meses alimentava a possibilidade de um desfecho negativo.
O projeto foi inicialmente anunciado no verão de 2023 por Charlie Kawwas, presidente da divisão de semicondutores da Broadcom, e era visto como uma aposta de grande impacto, capaz de atrair novas empresas e criar um polo tecnológico em torno de Saragoça, onde a instalação chegou a ser equacionada. De acordo com a agência, seria a primeira infraestrutura desta tipologia na Europa.
No entanto, as negociações foram-se degradando ao longo de 2024. A mudança no Ministério para a Transformação Digital, com a saída de José Luis Escrivá e a entrada de Óscar López em setembro do ano passado, foi apontada como um dos fatores que enfraqueceram o processo. De acordo com a Europa Press, López nunca se reuniu com representantes da empresa nem deu sinais claros de continuidade ao projeto.
O regresso de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, em janeiro de 2025, acabou por dar o golpe final às negociações. O agravamento das tensões comerciais entre Washington e Bruxelas, bem como a retração de investimentos tecnológicos norte-americanos na Europa, deterioraram o ambiente para parcerias transatlânticas nesta área.
Além da perda da Broadcom, o governo espanhol viu também fracassar uma segunda iniciativa, que envolvia 400 milhões de euros para criar uma joint venture com outra empresa dos EUA no setor dos semicondutores.
Esta potencial retirada da Broadcom deixa o programa espanhol “PERTE Chip” sem o seu principal projeto âncora. O plano, que envolve mais de 12 mil milhões de euros em investimento público, parte dos quais financiados por fundos europeus, enfrenta agora o desafio de reconstruir a sua credibilidade e capacidade de atrair parceiros internacionais num setor altamente competitivo.
Espanha não é o único país europeu a disputar este tipo de investimentos. Vários governos têm vindo a posicionar-se como destinos preferenciais para a instalação de fábricas tecnológicas. Portugal, por exemplo, tem manifestado interesse em acolher uma gigafábrica dedicada à inteligência artificial, num esforço para ganhar protagonismo num novo ciclo industrial que promete reconfigurar o mapa tecnológico europeu.
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