Governo quer antecipar mudanças na avaliação que aceleram progressões
A redução de dez para oito pontos e o alargamento das quotas vai aplicar-se ao ciclo de avaliação que já arrancou em 2023 e se prolonga até 2024, o que significa que terá efeitos práticos em 2025 e não apenas em 2026. Governo ainda quer rever carreira de técnicos superiores e deixa cair mais fiscalização das baixas por doença
Foi uma "enorme aproximação" de posições, segundo José Abraão, da Fesap (UGT). Ou uma alteração para um cenário "menos mau", segundo Sebastião Santana, da Frente Comum (CGTP). O Governo vai antecipar parte das alterações à avaliação de desempenho que na prática aceleram progressões, prometeu tentar voltar a melhorar ainda nesta legislatura a carreira de técnico superior e anunciou que vai deixar cair a medida que aumentava a fiscalização das baixas por doença, segundo revelaram os dirigentes sindicais.
De acordo com a Fesap, a redução dos pontos exigidos para uma progressão obrigatória (de dez para oito) será aplicada já no atual ciclo avaliativo (2023 a 2024) para ter efeitos em 2025 (em vez de 2026). O mesmo acontecerá com o alargamento de quotas para os funcionários considerados "bons" (30% que têm 1,5 pontos por ano), "muito bons" (30% que terão 2 pontos por ano) ou excelentes (10% dos "muito bons"). Em causa está uma alteração que o Governo tem dito que abrange 65% dos mais de 700 mil funcionários públicos.
Ou seja, o diploma entra em vigor em 2025, como previsto, mas com um regime transitório já a partir de 2023. Assim, a produção de efeitos, ou seja, o momento em que os funcionários sentem a aceleração de progressões por via desta mudança de fundo, "era para 2026 e passou para 2025", explicou aos jornalistas o secretário-geral da Fesap, no final de uma reunião com a ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, e com a secretária de Estado da Administração Pública, Inês Ramires.
Carreira de técnico superior em revisão,
caem mudanças nas baixas médicas
O Governo deixou ainda a promessa de acelerar a revisão da carreira de técnico superior nos proximos meses. "Saímos daqui com a expectativa de que o Governo irá fazer tudo para voltar a rever a carreira de técnico superior dentro da janela de oportunidade que tem", afirmou o sindicalista.
Por outro lado, deixou cair a intenção de promover uma maior fiscalização da baixas médicas. "Desapareceu [a medida das juntas], fica tudo como está", disse o secretário-geral da Fesap que concluiu que na reunião desta quarta-feira houve "uma enorme aproximação".
Desta forma, o Governo acelera medidas favoráveis aos funcionários públicos mas afasta medidas que não estarão tanto em linha com o desejo dos sindicatos (caso das baixas que passariam a ser sujeitas a juntas médicas em 30 e não 60 dias).
Questionado sobre se estas decisões estarão relacionadas com as eleições, José Abraão (UGT) respondeu que o importante é que as alterações sejam concluídas.
"Seja por causa das eleições seja lá por aquilo que for há uma coisa que eu sei. Tudo indica que estas medidas vão ser tomadas e estes problemas resolvidos", disse.
Afinal, como fica a avaliação?
O diploma que altera de forma estrutural as consequências da avaliação de desempenho (SIADAP) estava a ser discutido com os sindicatos desde o verão. O Governo sempre disse, no entanto, que só entraria em vigor em 2025 para produzir efeitos em 2026.
Nos últimos meses, a ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, e a secretária de Estado da Administração Pública, Inês Ramires, defenderam a data com dois argumentos: por um lado, o facto de estar já em curso um ciclo avaliativo - atualmente de dois anos - que só termina em 2024. A confirmar-se o anúncio, as regras vão ser alteradas a meio do ciclo. Por outro lado, com a necessidade de adaptar os sistemas informáticos, um processo que sempre explicaram que é moroso.
De acordo com o sindicalista, a data de entrada em vigor das alterações ao SIADAP mantém-se prevista para 1 de janeiro de 2025 mas há efeitos que serão antecipados.
Entre estes está a redução do número de pontos necessários (de 10 para 8) para uma progressão obrigatória e o alargamento das quotas que dão direito a mais do que um ponto por ano.
As questões relativas aos dirigentes, que passarão a ter prémios de até 4 mil euros quando o serviço (20% do total) for considerado excelente não constam deste regime transitório, e só produzirão efeitos em 2026.
Esta alteração estrutural ao diploma do sistema de avaliação (SIADAP) não deve ser confundida com uma outra medida mais pontual, o chamado "acelerador de progressões", destinado aos funcionários com 18 anos de antiguidade, que já está publicada em diploma e orçamentada, produzindo efeitos a partir do próximo ano, de forma mais imediata no caso de 72 mil funcionarios públicos.
Um sistema "menos mau"
Sebastião Santana, coordenador da Frente Comum, mostrou-se descontente com o facto de o Governo ter voltado a recusar reforçar a proposta de aumentos salariais, que serão de cerca de 53 euros ou no mínimo de 3%.
A estrutura da CGTP vai fazer uma concentração no dia 21 de novembro em frente à residência oficial do primeiro-ministro, de forma a "responsabilizar o chefe de governo" pelas respostas "que não vai dar neste orçamento do Estado.
O dirigente sindical desvalorizou a antecipação da produção de efeitos do diploma sobre a avaliação de desempenho e lembrou que não acaba com as quotas.
"Aplicar já uma redução da limitação é sempre menos mau do que mantê-la mais tempo", disse Sebastião Santana.
Notícia atualizada às 17:41 com as declarações de Sebastião Santana, da Frente Comum.
Notícia atualizada pelas 16:51 com mais informação
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