Chile vira à direita com vitória de Kast para novo Presidente

Mais de 15 milhões de chilenos foram às urnas escolher o sucessor de Gabriel Boric numas eleições muito polarizadas entre a candidata comunista Jeannette Jara e o radical de direita José Antonio Kast, que era o favorito nas sondagens.
Multidão juntou-se para tirar uma selfie com José Antonio Kast quando o candidato foi votar.
Esteban Felix/AP
Carla Pedro 14 de Dezembro de 2025 às 22:38

O Chile foi neste domingo às urnas para escolher o próximo chefe de Estado do país e, tal como se esperava, o radical de direita José Antonio Kast, do Partido Republicano, venceu a sua adversária Jeannette Jara, do Partido Comunista. 

Com mais de 99% dos votos escrutinados, Kast ganhava com 58,17%,  contra 41,83% de Jara. O candidato da extrema-direita será assim o sucessor de Gabriel Boric, que a 11 de março de 2026 lhe deverá entregar os comandos do país. 

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“A democracia falou alto e em bom som. Acabo de falar com o Presidente eleito, José Antonio Kast, para lhe desejar êxito pelo bem do Chile”, escreveu a candidata da esquerda, que ligou a Kast para o felicitar. Gabriel Boric também já telefonou ao seu sucessor e dirigiu uma mensagem à nação, na qual encorajou Kast a construir pontes. JAK agradeceu e convidou-o para “uma transição muito ordenada” - acrescentando, citado pelo El País, que espera poder “contar com as suas opiniões” a partir de 11 de março.

A vitória de José Antonio Kast (conhecido como JAK) traz ao poder no Chile o Presidente mais à direita desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet em 1990. 

Estas foram as primeiras eleições de voto obrigatório desde 2012 e estavam assim aptos a votar 15,6 milhões de eleitores, de uma população de 19,7 milhões. A coima para quem não votasse – excluindo quem estivesse doente, fora do país ou a mais de 200 km do seu centro de voto – era de 30,5 a 92 euros. 

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Aliás, essa era a grande dúvida, já que nas eleições dos últimos anos cerca de um terço dos então 15 milhões de eleitores não votaram. “Esses cinco milhões de pessoas desconfiam mais da política”, comentou Claudia Heiss, cientista política da Universidade do Chile, ao The Guardian. De qualquer modo, na primeira volta das presidenciais, a 16 de novembro, esse “novo” eleitorado “mostrou-se atraído pelas promessas populistas da direita e votou contra a coligação do Governo”.

Depois de prometer um “Governo de emergência”, com uma campanha focada no combate à criminalidade e imigração, Kast liderava as sondagens. Já a candidata comunista, que representava a coligação governamental de centro-esquerda, visava dar continuidade às políticas do Presidente Boric – em cujo Governo Jara foi ministra do Trabalho. 

Muitos observadores políticos dizem que Jeannette Jara, de 51 anos, foi castigada pela ampla perceção de que o atual Governo não conseguiu combater o aumento da criminalidade nem a estagnação da economia. Além disso, a soma dos votos de todos os candidatos de direita ultrapassou 50% na primeira volta, o que tornava provável que Kast consolidasse os votos na segunda ida às urnas, posicionando-o para uma vitória decisiva. 

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Jara tentou centrar a sua campanha na questão do aumento de preços de produtos como o pão e a manteiga, prometendo subir o salário base. No entanto, teve de mudar o foco para a segurança, dizendo que iria atacar as causas da criminalidade, aumentar os benefícios de pensões, reduzir os custos dos serviços públicos e expandir a construção de habitações. Mas a sua longa ligação ao Partido Comunista – está filiada desde a adolescência – não ajudou, já que o Chile é uma nação relativamente conservadora.  

Já Kast, de 59 anos, prometeu criar um “escudo fronteiriço”, através de trincheiras e muros e da colocação de câmaras ao longo da fronteira norte do Chile com o Peru e a Bolívia. O veterano político de extrema-direita, que tem nove filhos, prometeu também deportações em massa de imigrantes que estejam ilegalmente no país e a construção de prisões de alta segurança. Desde 2021, Kast moderou algumas de suas posições controversas, mas continua a ser uma das figuras mais proeminentes do populismo de direita no Chile.

Os mercados chilenos já vinham  a aplaudir a perspetiva de uma vitória de JAK, com a bolsa a subir, o peso a valorizar face ao dólar e os juros das obrigações soberanas a 10 anos a caírem. Os resultados das eleições, se penderem para o candidato “ao estilo Trump” – também alcunhado de “Bolsonaro chileno” –, podem acelerar o processo de reforma que já começou no Chile, apontava um research do Morgan Stanley. “A desregulamentação, a reforma das pensões e a reforma dos mercados de capitais são fundamentais para a narrativa de investimento chilena”, sublinharam os analistas do banco de investimento, reconhecendo que grande parte das notícias já estava a ser incorporada pelos mercados.

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(notícia atualizada pela última vez às 00:19 de 15 de dezembro)

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