Pentágono considera comprar posição em empresas militares e replicar "modelo Intel"
Depois de ter surpreendido Wall Street com a aquisição de 10% da Intel, a administração Trump admite avaliar o mesmo tipo de intervenção no setor da defesa. O secretário do Comércio, Howard Lutnick, disse esta terça-feira que “há uma discussão monstruosa sobre defesa”, quando questionado sobre a possibilidade de o governo assumir participações em empresas contratadas pelo Pentágono.
Em entrevista à CNBC, Lutnick destacou o caso da Lockheed Martin, maior fabricante mundial de armamento. “Eles são basicamente um braço do Governo dos Estados Unidos”, afirmou, sublinhando que 73% das receitas da empresa resultam de contratos federais, segundo dados oficiais.
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As declarações surgem dias depois de Washington ter fechado um acordo inédito com a Intel. Ao abrigo da operação, o governo recebeu 433,3 milhões de ações da tecnológica, cerca de 10% do capital, num investimento avaliado em 8,9 mil milhões de dólares, financiado através do Chips and Science Act e do programa Secure Enclave. No total, a Intel já recebeu 11,1 mil milhões de dólares de fundos públicos.
O governo não terá assento no conselho de administração nem direitos de governação, permanecendo como acionista passivo. Ainda assim, o movimento foi interpretado como uma nova forma de “economic statecraft” da presidência de Trump, ou seja, o uso estratégico da economia para alcançar objetivos de política externa e segurança nacional. O próprio presidente defendeu a operação e admitiu replicá-la: “Faria negócios como este o dia inteiro”, disse Trump esta segunda-feira.
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Embora tenha evitado confirmar planos concretos, Lutnick admitiu que o Pentágono está a refletir sobre a possibilidade de replicar o modelo. “O meu secretário da Defesa e o subsecretário da Defesa estão em cima do assunto e a pensar nisso”, afirmou, acrescentando que o debate incide sobretudo em “como financiar as nossas aquisições de munições”.
Nem a Lockheed Martin nem o Departamento de Defesa reagiram ainda às declarações.
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Apesar do entusiasmo do executivo, a estratégia tem gerado divisões. Para Lutnick, os contribuintes norte-americanos devem receber contrapartidas proporcionais quando o Estado injeta capital em empresas privadas: “Vamos obter o benefício do acordo. É preciso pressionar estas pessoas, não se pode ser um frouxo”.
Mas há quem alerte para riscos de ingerência política nas decisões empresariais. O economista Scott Lincicome, do Cato Institute, escreveu no The Washington Post que “o risco mais imediato é que as decisões da Intel passem a ser guiadas por considerações políticas em vez de comerciais”. Já o senador republicano Rand Paul questionou: “Se socialismo é o governo possuir os meios de produção, não seria o governo possuir parte da Intel um passo em direção ao socialismo?”.
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Na segunda-feira, a administração norte-americana admitiu assumir participações acionistas em mais empresas no futuro, potencialmente através de um fundo soberano norte-americano. De acordo com Kevin Hassett, líder do Conselho Económico Social, as aquisições podem acontecer na área dos chips ou mesmo noutras indústrias. “Também vou ajudar essas empresas que fazem este tipo de negócios lucrativos com os EUA... Adoro ver os preços das suas ações subirem, tornando os Estados Unidos ricos e ricos”, comentou Donald Trump na Truth Social, garantindo que esta posição se traduzirá em “mais empregos para a América”.
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