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De prisioneiro de guerra a conciliador: como McCain ajudou o Vietname a sair da pobreza

McCain foi prisioneiro de guerra e, posteriormente, um dos grandes defensores das relações com o Vietname. E as reacções à sua morte são reveladoras do legado que deixou.

29 de Agosto de 2018 às 16:51
De prisioneiro de guerra a conciliador: como McCain ajudou o Vietname a sair da pobreza

McCain, que faleceu no sábado depois de lutar contra um cancro no cérebro, acabou na prisão de Hoa Lo depois de ter sido abatido num bombardeio durante a Guerra do Vietname, há 51 anos. A transformação do país do Sudeste Asiático ao longo dos anos é um sinal do legado do falecido senador.

"Por causa de John McCain, os EUA e o Vietname puderam voltar a ligar-se", disse Adam Sitkoff, director da Câmara Americana de Comércio em Hanói. O investimento e o comércio após a guerra ajudaram a transformar o país do Sudeste Asiático. "Nas últimas duas décadas, o rendimento per capita do vietnamita mais que quadruplicou", afirmou Sitkoff. "É uma grande parte do legado dele."

Nas décadas seguintes ao conflito, McCain foi implacável em pressionar o governo dos EUA a normalizar as relações diplomáticas e económicas com o antigo inimigo: a embaixada revelou que McCain fez 23 viagens ao Vietname. Apesar de criticar o sistema monopartidário e o histórico do país em relação aos direitos humanos, McCain tentou estreitar os laços e tornou-se num personagem popular para muitos no país.

"Cheguei a #Hanoi, onde as pessoas me cumprimentam sempre de modo incrivelmente amigável", twittou McCain em 7 de Agosto de 2014.

Perante a notícia do seu falecimento, os vietnamitas que antigamente corriam para os abrigos aéreos enquanto as bombas americanas choviam sobre Hanói lamentaram a morte do senador.

Hoang Manh Cuong, de 60 anos, lembrou-se de ter corrido para o lago Truc Bach, em Hanói, em 1967, quando se espalhou a notícia de que o piloto americano tinha sido capturado ali. Na manhã de segunda-feira, rezou pelo ex-senador dos EUA num monumento de cimento à beira do lago, cujos moradores transformaram num santuário improvisado com flores e incenso.

"Embora tenha sido nosso inimigo, ele ajudou muito a restaurar as relações entre os EUA e o Vietname", disse Cuong. "Isso ajudou a abrir a economia e melhorou drasticamente as nossas vidas. Devemos-lhe isso."

O ex-piloto da Marinha foi o mais famoso prisioneiro de guerra do Vietname do Norte. Depois de voltar aos EUA após cinco anos e meio em cativeiro, McCain começou uma carreira no Congresso que o tornou uma força na política americana e internacional. Ele concorreu à presidência dos EUA em 2000 e 2008, e obteve a nomeação republicana na sua segunda campanha, mas perdeu a eleição para o democrata Barack Obama.

Em 1988, pouco depois de se ter integrado o Senado, McCain escreveu um artigo de opinião no Washington Post onde defendia que o Vietname "tem muito a ganhar em garantir os requisitos para uma normalização diplomática e das relações comerciais. O Vietname é uma das 10 economias mais pobres do mundo, com uma economia a manter-se à tona apenas pela generosidade da economia soviética."

Depois de McCain conseguir o apoio do presidente Bill Clinton, em 1995, normalizando-se as relações diplomáticas com o Vietname, o investimento começou a surgir e as relações comerciais com os EUA e com outros países aliados começaram a crescer rapidamente. Os líderes comunistas do Vietname abraçaram o capitalismo e o país é actualmente uma das economistas com maior crescimento do mundo, com uma expansão de 6,8% no segundo trimestre do ano.

McCain continuou a bater-se pelo fim da proibição da venda de armas dos EUA ao Vietname, o que aconteceu em 2016, sob a presidência de Barack Obama.

Enquanto prisioneiro de guerra, McCain foi alvo de violência constante e esteve mais de dois anos na solitária. Em meados de 1968, quando o seu pai foi nomeado comandante das forças americanas no Pacífico, os sequestradores de McCain ofereceram-lhe a libertação antecipada. McCain recusou.

A prisão de Hoa Lo foi demolida nos anos 90, tendo apenas a zona de entrado sido mantida como museu.

No Vietname, a imprensa controlada pelo Estado publicou e transmitiu notícias sobre a morte de McCain, lembrando favoravelmente o papel do político na melhoria das relações diplomáticas entre os EUA e o Vietname. O vice-primeiro-ministro do Vietname, Pham Binh Minh, assinou um livro de condolências na Embaixada dos EUA, e o Ministério das Relações Exteriores afirmou que McCain fez "grandes contribuições para curar as feridas da guerra".

(Texto original: McCain’s Prison, Now a Luxury Hotel, Shows His Legacy in Vietnam)

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