Trump reclama créditos pelo isolamento do Qatar
A relação entre a visita de Trump à Arábia Saudita e a decisão de "cercar" diplomaticamente Doha já tinha sido estabelecida por analistas e pelo Irão. Agora, o presidente norte-americano confirma-a.
O presidente norte-americano reclamou para si os créditos das medidas de combate ao terrorismo implementadas por países do Médio Oriente, aludindo ao isolamento diplomático a que vários países da região do Golfo Pérsico votaram desde ontem o Qatar, alegadamente pelo financiamento de actividades extremistas levadas a cabo por aquele país.
Em três mensagens no Twitter, publicadas esta terça-feira, 6 de Junho, Donald Trump defende que a sua visita há duas semanas à Arábia Saudita começa a produzir frutos e que todas as referências dos representantes dos países com quem se reuniu apontavam para o Qatar.
"Durante a minha viagem recente ao Médio Oriente afirmei que não pode haver mais financiamento a ideologias radicais. Os líderes apontaram para o Qatar – olhem! (…) Tão bom ver que a visita à Arábia Saudita com o rei e 50 países já está a surtir resultados. Eles disseram que assumiriam uma posição firme no financiamento ao extremismo e todas as referências apontavam para o Qatar. Talvez este seja o início do fim do horror do extremismo!," escreveu.
During my recent trip to the Middle East I stated that there can no longer be funding of Radical Ideology. Leaders pointed to Qatar - look!
So good to see the Saudi Arabia visit with the King and 50 countries already paying off. They said they would take a hard line on funding...
...extremism, and all reference was pointing to Qatar. Perhaps this will be the beginning of the end to the horror of terrorism!
As declarações de Trump são produzidas mais de 24 horas depois de a Arábia Saudita e pelo menos mais seis países e autoridades terem cortado laços diplomáticos com o Qatar, acusando o país de financiar actividades terroristas, nomeadamente através do apoio a organizações como o ISIS ou a al-Qaeda.
Vários analistas e mesmo responsáveis do Irão já tinham estabelecido uma relação de causa-efeito entre a visita do presidente norte-americano à Arábia Saudita nos últimos dias e ao desencadear de medidas de cerco diplomático ao Qatar, país que ontem negou as acusações considerando serem "infundadas".
Contudo, há duas semanas Trump reuniu-se com o emir do Qatar (na foto), reiterando-lhe a amizade norte-americana e a intenção de vender armamento.
"Somos amigos, temos sido amigos há muito tempo. A nossa relação é extremamente boa, temos conversações sérias em curso, uma das coisas que vamos discutir é a compra de uma série de bonito material militar, ninguém o faz como os Estados Unidos - e para nós isso significa empregos e também muita segurança aqui, que é o que queremos. É uma honra estar consigo," disse então, de acordo com um vídeo divulgado pela Casa Branca.
De acordo com a Lusa, o Qatar acolhe no seu território dirigentes do Hamas e da Irmandade Muçulmana, que são consideradas organizações terroristas pelos países vizinhos. Mas é também naquele país que se encontra a maior base dos EUA no Médio Oriente, de al Udeid, com oito mil militares e ponto de apoio para os ataques liderados pelos EUA contra o ISIS.
Árábia Saudita, Egipto, Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Iémen, Maldivas e um dos governos líbios decretaram ontem o corte de relações diplomáticas com Doha, uma decisão que teve repercussões no fecho de portos e fronteiras, na suspensão de ligações aéreas, na interrupção de fluxos financeiros e no ultimato dado pelos Emirados para que, em duas semanas, os cidadãos do Qatar abandonem aquele território e os seus nacionais deixem o Qatar.
A companhia aérea Qatar Airways suspendeu todos os voos de e para a Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Egipto "até nova ordem" e começou a usar em alternativa às suas deslocações os espaços aéreos iraniano e turco.
O Irão apelou ontem ao Qatar e aos vizinhos do Golfo para retomarem o diálogo para resolver os seus diferendos e, entretanto, o Kuwait ofereceu-se para mediar o conflito. O xeque kuwaitiano Sabah Al-Ahmad Al-Jaber al-Sabah vai encontrar-se ao final desta terça-feira com o rei Salman da Arábia Saudita.
Mais lidas