“Drill, baby, drill”: Trump quer virar do avesso a gestão das terras públicas americanas
A administração Trump avançou com uma proposta para revogar uma das medidas ambientais mais emblemáticas do mandato de Joe Biden: a regra que, desde abril de 2024, colocava a conservação em pé de igualdade com a exploração económica das terras públicas.
Segundo o The New York Times, a iniciativa partiu do Bureau of Land Management (BLM), organismo que administra mais de um milhão de quilómetros quadrados de terras públicas, quase um décimo do território norte-americano, e que tem sido palco de disputas históricas entre interesses ambientais e industriais. Conhecido como o “maior senhorio da nação”, o BLM há décadas concede arrendamentos para exploração de petróleo, mineração de carvão, produção florestal ou pastoreio, atividades que contribuíram para a fragmentação de habitats e para a perda de biodiversidade.
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A regra de Biden, conhecida como “Public Lands Rule”, permitia ao BLM arrendar áreas degradadas a organizações interessadas em recuperar ecossistemas ou compensar danos ambientais. Foi a primeira vez, desde a criação do organismo em 1946, que a conservação tinha o mesmo peso que atividades económicas. Biden também tinha promovido estes territórios para fins de lazer e energias renováveis, ao contrário da nova proposta, que privilegia combustíveis fósseis e mineração.
Vários estados liderados por republicanos e associações industriais contestaram a medida em tribunal, acusando a Casa Branca de “apropriação de terras”. Agora, a proposta de revogação pretende devolver prioridade às atividades económicas. Doug Burgum, secretário do Interior, defendeu que a regra anterior “tinha o potencial de bloquear o acesso a centenas de milhares de hectares de terras de uso múltiplo”, impedindo a produção de energia, a exploração florestal ou até atividades recreativas. “Revogar esta regra protege o nosso modo de vida americano e dá voz às comunidades que dependem destas terras”, acrescentou Burgum, citado pela Associated Press.
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As associações industriais aplaudiram a decisão. Rich Nolan, presidente da National Mining Association, argumentou que a administração Biden “colocou a conservação acima de tudo” de forma ilegal e que a revogação “restaura o equilíbrio do uso federal da terra, garantindo que os recursos disponíveis possam responder às necessidades energéticas crescentes e alimentar cadeias de abastecimento críticas”.
Do outro lado, as organizações de conservação acusam a administração de ceder aos interesses da indústria extrativa. Jennifer Rokala, diretora do Center for Western Priorities, afirmou que a revogação “desequilibra novamente a gestão de terras públicas, regressando ao século XIX, quando os barões monopolizavam recursos em benefício próprio”. Rokala lembrou ainda que caçadores, pescadores e caminhantes tinham elogiado a regra de Biden por assegurar o acesso às terras públicas para as gerações futuras.
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A revogação insere-se numa linha mais ampla da política energética de Donald Trump, centrada no lema “drill, baby, drill” e na expansão da produção fóssil interna. Durante a sua intervenção na conferência Gastech, em Milão, Burgum foi mais longe ao declarar que “o que vai salvar o planeta é vencer a corrida da inteligência artificial”, acrescentando que para isso os EUA precisam de mais energia “já”.
Apesar de ainda faltar um processo de consulta pública de 60 dias, vários analistas sublinham que a intenção política é clara: privilegiar a exploração económica em detrimento da proteção ambiental.
Em paralelo, Trump enfrenta ainda um vazio de liderança no próprio BLM. Em fevereiro, tinha nomeado Kathleen Sgamma, então presidente da Western Energy Alliance, para dirigir o organismo. Mas a escolha colapsou semanas depois, quando veio a público uma carta em que Sgamma criticava a invasão do Capitólio a 6 de janeiro de 2021. A nomeação foi retirada a pedido da própria administração e, até ao momento, não há sucessor designado.
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