EUA estudam rastreamento em chips para travar fuga tecnológica para a China
A Casa Branca está a considerar a implementação de tecnologias de rastreamento em semicondutores avançados, como os da Nvidia, para reforçar a vigilância sobre a sua circulação global, com atenção redobrada sobre o mercado chinês. A revelação foi feita por Michael Kratsios, responsável pelo plano de ação norte-americano para a inteligência artificial (IA), que defendeu a medida como uma resposta ao crescente risco de fuga de tecnologia para países rivais.
“Estamos a discutir alterações, tanto de "software" como físicas, que permitam rastrear de melhor forma a localização dos chips”, afirmou Kratsios, numa entrevista à Bloomberg Television. Segundo o conselheiro tecnológico da administração Trump, trata-se de uma prioridade inscrita no novo plano estratégico dos EUA para a IA, apresentado no mês passado, que inclui ainda incentivos à adoção de infraestrutura tecnológica norte-americana por parte de aliados regionais.
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Esta intenção de reforçar os controlos surge num momento em que os EUA e a China voltam a cruzar acusações sobre espionagem e segurança tecnológica. Só na última semana, as autoridades chinesas convocaram representantes da Nvidia para questionar a empresa sobre alegados riscos de rastreamento e controlo remoto dos seus chips H20, uma versão desenhada especificamente para o mercado chinês. A tecnológica negou de imediato qualquer possibilidade de inserir “backdoors” (isto é, uma forma de contornar sistemas de autenticação), nos seus produtos, assegurando que a cibersegurança é uma prioridade fundamental.
A tensão entre as duas potências é agravada pelas sucessivas fugas de semicondutores norte-americanos para o mercado chinês. Segundo o Financial Times, mais de mil milhões de dólares em chips da Nvidia, incluindo o popular modelo B200, terão entrado no país nos meses recentes através de canais não oficiais, violando assim o regime de sanções imposto por Washington. A Nvidia, porém, rejeita envolvimento direto e afirma que não há provas de exportações ilegais por parte da empresa.
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Ao mesmo tempo, cresce a preocupação com a segurança interna das cadeias de produção. A TSMC, maior fabricante de chips do mundo e fornecedora de gigantes como a Nvidia e a Apple, revelou esta semana ter identificado uma potencial fuga de segredos comerciais relacionados com o fabrico de chips de dois nanómetros – o processo mais avançado da atualidade. As suspeitas recaem sobre funcionários da própria empresa e a investigação já foi encaminhada para as autoridades judiciais.
A Casa Branca vê no rastreamento uma possível solução para prevenir episódios semelhantes. A ideia não é nova mas ganha tração à luz do plano de Trump para reforçar a supremacia tecnológica dos EUA, no campo da IA. Kratsios, que participou esta semana numa reunião ministral da APEC sobre o tema, sublinhou que “os próximos avanços revolucionários serão feitos com e sobre a tecnologia americana” e apelou aos países asiáticos para adotarem os padrões e infraestrutura norte-americana.
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Internamente, o plano enfrenta críticas quanto à sua viabilidade técnica e legal. Kratsios admitiu que ainda não discutiu pessoalmente a integração de tecnologia de localização com fabricantes como a Nvidia ou a AMD mas sublinhou que o Governo está pronto para usar instrumentos financeiros federais para apoiar exportações seguras de tecnologia sensível para parceiros autorizados.
A China tem procurado desenvolver os seus próprios chips, como por exemplo, com os modelos Ascend AI da Huawei, que apresentam resultados limitados. Neste contexto, os EUA tentam apertar o cerco não apenas com restrições comerciais mas também com inovação no controlo de circulação. O plano de rastreamento poderá marcar um novo capítulo no confronto por liderança tecnológica global.
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