Starmer demite embaixador nos EUA após revelações de ligações a Jeffrey Epstein
O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, decidiu afastar Peter Mandelson do cargo de embaixador do Reino Unido nos Estados Unidos na sequência de novas revelações sobre as suas ligações a Jeffrey Epstein. A decisão foi anunciada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, que justificou a demissão com a “informação adicional em e-mails escritos por Peter Mandelson” recentemente tornada pública.
Segundo a Bloomberg, esses e-mails, mais de uma centena, trocados entre 2005 e 2010, mostram Mandelson a expressar apoio firme a Jeffrey Epstein mesmo após este ter sido acusado de crimes sexuais com menores, chegando a oferecer-se para interceder junto de contactos políticos.
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Em junho de 2008, na véspera de Epstein se apresentar para cumprir pena de prisão na Flórida, Mandelson escreveu-lhe: “Tenho uma grande admiração por si e sinto-me desesperado e furioso com o que aconteceu”, acrescentando que a situação “jamais poderia acontecer no Reino Unido”. De acordo com uma investigação da Bloomberg, Peter Mandelson aconselhou Epstein a manter-se resiliente e a “lutar por uma libertação antecipada”, evocando mesmo estratégias inspiradas na obra “A Arte da Guerra”, de Sun Tzu.
As revelações também incluem a publicação de um livro de tributos organizado por Ghislaine Maxwell para o 50.º aniversário de Epstein, em 2003, no qual Mandelson dedicou dez páginas ao amigo e o descreveu como o seu “best pal” (“melhor amigo”). Este detalhe, divulgado recentemente por congressistas norte-americanos, gerou ainda mais indignação no Reino Unido. De acordo com a Reuters, a oposição conservadora exigiu explicações imediatas no Parlamento, com a líder Kemi Badenoch a acusar Starmer de “falha de julgamento” por manter a confiança no embaixador após os primeiros indícios das ligações.
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O caso ganhou dimensão política explosiva. Vários deputados trabalhistas juntaram-se aos apelos para a saída de Mandelson, com Andy McDonald, do Partido Trabalhista britânico, a afirmar que “ter simpatia por Jeffrey Epstein demonstra uma colossal perda de juízo”. Também os liberais democratas questionaram se o governo tinha garantias de que a administração Trump não poderia dispor de “material comprometedor” contra o diplomata, que até à véspera do escândalo seria peça central nas negociações bilaterais. O episódio surge num momento particularmente delicado, com uma visita de Estado do Presidente norte-americano Donald Trump ao Reino Unido agendada para a próxima semana.
A reação dentro do próprio governo mostrou desconforto. O ministro da Administração Interna, Mike Tapp, admitiu em entrevista à BBC que as mensagens reveladas eram “perturbadoras” e confessou ter “arrepios” ao ouvir o conteúdo. Ainda assim, horas antes da divulgação integral dos e-mails, Starmer tinha assegurado no Parlamento que mantinha confiança em Mandelson, alegando que o processo de nomeação tinha seguido “o devido escrutínio”.
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Face à escalada de críticas e ao impacto na opinião pública, o Ministério dos Negócios Estrangeiros confirmou esta quinta-feira a exoneração imediata de Mandelson. De acordo com a Reuters, o comunicado oficial sublinhou que os novos elementos tornaram insustentável a manutenção do cargo. Em declarações ao jornal The Sun na quarta-feira, Mandelson tinha expressado “profundo arrependimento” por ter mantido a amizade com Epstein “muito para além do aceitável”, assumindo ter acreditado nas “mentiras” do gestor. Ainda assim, Mandelson nega ter cometido qualquer crime.
O afastamento de Mandelson levanta agora questões sobre a solidez dos mecanismos de verificação usados pelo governo britânico na nomeação de altos diplomatas. Segundo o The Guardian, há pressões crescentes para que seja revista a forma como o executivo avalia potenciais riscos reputacionais, sobretudo em cargos de tão elevada visibilidade. Ao mesmo tempo, esta saída forçada pode complicar temporariamente as relações diplomáticas entre Londres e Washington.
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O caso Epstein, mesmo após a morte do gestor em 2019 numa prisão de Nova Iorque, continua a expor redes de influência e a comprometer figuras públicas que com ele se relacionaram e é também, atualmente, um dos pontos mais sensíveis da administração Trump, que tinha prometido divulgar os ficheiros no início do mandato, algo que ainda não aconteceu. Para Starmer, a demissão de Mandelson representa não apenas a tentativa de travar danos adicionais à imagem do governo, mas também um alerta sobre o peso político de associações passadas em funções de Estado.
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