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China "finta" EUA e intensifica compras de soja à América Latina

Com mais soja da Argentina, Brasil e Uruguai, Pequim reduz espaço para os EUA e deixa produtores americanos em desespero.

China aumenta compras de soja na América Latina, afetando produtores nos EUA.
China aumenta compras de soja na América Latina, afetando produtores nos EUA. Friso Gentsch / AP
01 de Setembro de 2025 às 14:05

A China está a aumentar de forma significativa as compras de soja à Argentina, Brasil e ao Uruguai, num movimento que aprofunda a dependência de Pequim da América do Sul e fragiliza ainda mais os produtores norte-americanos. A decisão surge em plena guerra comercial entre Washington e Pequim, marcada por tarifas mútuas que atingiram em cheio as exportações agrícolas.

Segundo fontes ouvidas pela Reuters, os processadores alimentares chineses poderão adquirir até 10 milhões de toneladas métricas de soja da Argentina e do Uruguai no ano de comercialização 2025/26, que termina no próximo agosto, um recorde histórico. Até agora, já foram contratadas 2,43 milhões de toneladas para embarque entre setembro e maio, quando no ano anterior as importações totalizaram apenas 5 milhões de toneladas.

Este reforço soma-se às volumosas compras do Brasil, principal fornecedor de soja para a China, e agrava a perda de quota de mercado dos EUA. “Com mais fornecedores, a China precisa de menos soja norte-americana, o que ajuda no contexto da guerra comercial”, afirmou um dos traders à Reuters.

Impacto nos EUA: produtores em alerta

O impacto para os produtores norte-americanos é severo. O período de outono, quando a colheita fresca chega ao mercado, é historicamente o mais importante para as vendas externas dos EUA. Contudo, este ano não há qualquer compra chinesa agendada para o quarto trimestre, um vazio que causa alarme entre agricultores e associações do setor.

A American Soybean Association (ASA), que representa mais de 500 mil produtores, intensificou os apelos à Casa Branca para que a soja seja prioridade nas negociações comerciais com Pequim. “Os agricultores de soja estão sob enorme pressão financeira. Os preços continuam a cair e, ao mesmo tempo, os custos com insumos e equipamentos disparam. Os produtores não conseguem sobreviver a uma disputa prolongada com o nosso maior cliente”, disse o presidente da ASA, Caleb Ragland,

Historicamente, a China absorvia mais de 60% da soja comercializada no mundo, tendo os EUA como principal fornecedor. Em 2024, apenas 12% das importações agrícolas chinesas tiveram origem nos EUA.

Brasil em ascensão e pressões geopolíticas

O Brasil consolidou-se como grande vencedor desta disputa, expandindo produção e respondendo rapidamente ao apetite chinês. A sua participação nas importações agrícolas da China passou de 14% em 2016 para 22% em 2024. Já a Argentina registou uma safra robusta de 50,9 milhões de toneladas em 2024/25, segundo o USDA, recuperando do colapso provocado pela seca de dois anos atrás. O Uruguai também aumentou a produção, alcançando 4,2 milhões de toneladas, face aos 3,3 milhões da campanha anterior.

Nos EUA, a frustração com esta tendência é crescente. No Farm Progress Show, o vice-secretário da Agricultura, Stephen Vaden, reconheceu a gravidade da situação, mas defendeu que a resposta não deve limitar-se a recuperar o mercado chinês: “Estamos a trabalhar para vender soja não só à China, mas ao resto do mundo”.

Ainda assim, o discurso oficial não acalma o setor. Ragland insiste que “a China continua a ser o ‘elefante na sala’”. Normalmente, nesta altura do ano, cerca de 40% das vendas anuais já estariam asseguradas. Hoje, “temos zero bushels contratados com a China para esta colheita, e isso é alarmante para os agricultores americanos”, sublinhou.

A ausência chinesa no mercado norte-americano, somada ao aumento dos custos de produção e à pressão descendente nos preços, alimenta o receio de uma crise agrícola nos EUA. alertam que a perda de mercado pode tornar-se estrutural, com a China a consolidar cadeias de abastecimento alternativas na América do Sul.

Para a ASA, cada dia sem acordo “erode ainda mais a quota de mercado dos agricultores americanos”. Já o governo norte-americano aponta o dedo a práticas “desleais” do Brasil e chegou a abrir uma investigação sobre alegado desmatamento ligado à expansão da soja.

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