Fed continua sem pressa de mexer nos juros
A Reserva Federal (Fed) dos Estados Unidos continua firmemente focada em alcançar os objetivos do seu duplo mandato de máximo emprego e preços estáveis, em benefício da população norte-americana. Foi com esta mensagem que o presidente do banco central, Jerome Powell, começou por se dirigir ao comité dos serviços financeiros da Câmara dos Representantes, no âmbito das suas audições semestrais no Congresso dos EUA, tendo sublinhado que “apesar da elevada incerteza, a economia continua numa posição sólida”.
“A taxa de desemprego mantém-se baixa e o mercado de trabalho está em situação de pleno emprego (ou muito perto disso)”, afirmou. Quanto à inflação, “desceu bastante, mas tem continuado acima da nossa meta de 2% para o longo prazo”, declarou Powell, frisando que a Fed está “atenta aos riscos de ambos os lados do nosso mandato duplo”.
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Powell reiterou assim o que disse na semana passada na conferência de imprensa após a decisão de política monetária – em que a Fed optou por não mexer nos juros diretores, deixando a taxa dos fundos federais no intervalo entre 4,25% e 4,5%.
Em 2025, o banco central ainda não mexeu na taxa de referência, depois de ter iniciado em setembro passado o ciclo de redução dos juros – com os três cortes entretanto anunciados a ascenderem a um total de 100 pontos-base (um ponto percentual) no final do ano.
Desde que o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tomou posse (a 20 de janeiro), a Fed tem optado por um posicionamento de “esperar para ver”, enquanto aguarda por dados mais definidos sobre o impacto económico das tarifas alfandegárias anunciadas pela Casa Branca contra os seus parceiros comerciais – a maioria das quais deverá entrar em vigor no próximo mês, depois de uma suspensão de 90 dias na sua aplicação.
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Depois de falar do duplo mandato da Fed e da situação económica atual dos EUA, Jerome Powell debruçou-se sobre a política monetária do banco central, mas sublinhando uma vez mais que “continua a haver mudanças políticas” e que “os seus efeitos na economia permanecem incertos”.
“Os efeitos das tarifas irão depender, entre outras coisas, do seu nível final. As perspetivas quanto a esse nível – e, consequentemente, quanto aos seus efeitos económicos, atingiram um pico em abril [alusão ao chamado “Dia da Libertação”, quando Trump anunciou, a 2 de abril, tarifas recíprocas sobre as importações de 90 países] e, desde então, diminuíram. Ainda assim, os aumentos de tarifas este ano deverão fazer subir os preços e pesar na atividade económica”, afirmou o presidente da Reserva Federal.
Powell salientou que os efeitos na inflação “poderão ser de curta duração, refletindo uma oscilação pontual no nível de preços”. No entanto, adiantou, “é também possível que os efeitos inflacionistas possam ser mais persistentes”. E, no seu entender, evitar esse resultado vai depender da dimensão do impacto das tarifas, de quanto demorará a estarem totalmente incorporadas nos preços e, em última análise, de manter bem ancoradas as expectativas para a inflação de mais longo prazo.
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“A obrigação do Comité Federal do Mercado Aberto (FOMC) é manter essas expectativas bem ancoradas e evitar que uma subida pontual do nível de preços se transforme num problema contínuo de inflação”, apontou Powell perante a Câmara dos Representantes. “Ao agirmos para cumprir essa obrigação, equilibraremos os nossos mandatos de máximo emprego e estabilidade dos preços, mantendo em mente que, sem estabilidade dos preços, não podemos alcançar os longos períodos de fortes condições do mercado de trabalho que beneficiam todos os americanos”.
Assim, disse Powell, “por agora estamos bem posicionados para esperar e saber mais sobre o provável rumo da economia antes de ponderarmos quaisquer ajustamentos no posicionamento da nossa política monetária” – indo assim ao encontro do que foi sinalizado na última reunião, quando a média do “dot plot” (mapa trimestral que mostra como cada representante da Fed estima as mexidas nos juros diretores) deu como cenário mais provável apenas dois cortes de juros (de 25 pontos-base cada) este ano.
Depois do testemunho de Powell, seguiu-se a sessão de perguntas e respostas e o presidente da Fed explicou que a autoridade monetária poderá cortar juros mais depressa se o mercado laboral enfraquecer, mas que, se este ficar mais robusto, deverá manter a taxa dos fundos federais em pausa.
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Assim, o líder da Reserva Federal disse que uma combinação de menor inflação e mercado laboral mais fraco pode levar a Fed a cotar os juros mais depressa do que o previsto, mas reiterou que as perspetivas económicas continuam “altamente incertas”.
Dois membros do conselho de governadores da Fed – Chris Waller e Michelle Bowman – declaram nos últimos dias que apoiariam um corte dos juros na reunião de julho, salientando que as últimas leituras da inflação sugerem que as tarifas de Trump terão menos impacto nos preços do que se receava.
No entanto, Powell não partilha essa opinião, tendo uma vez mais repelido os apelos de Donald Trump no sentido de descer os juros diretores. Horas antes do testemunho do presidente da Fed, Trump publicou na sua rede social, a Truth Social, que esperava que o Congresso analisasse bem o trabalho “deste indivíduo muito burro e teimoso”. “Nós pagaremos durante muitos anos pela sua incompetência”, escreveu.
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(notícia atualizada)
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