O “fenómeno” Marcelo, vedeta televisiva, nos jornais internacionais
Lá fora, a vitória de Marcelo Rebelo de Sousa já foi noticiada pelos órgãos internacionais. A maioria lembra os anos de comentário político de Marcelo, para realçar que o Presidente eleito é um contra-peso ao Governo de esquerda.
A imprensa internacional já noticiou a vitória de Marcelo Rebelo de Sousa. O El Pais fala do "fenómeno" Marcelo. "Face a uma estratégia de outros nove candidatos de prometerem coisas mais próprias de um primeiro-ministro, Rebelo de Sousa passeava nas ruas e falava com as pessoas a quem lhes dizia: ‘as pessoas têm falta de carinho’". E é assim que o jornal espanhol terminava um breve perfil - no qual lembrava que tinha crescido entre políticos - do Presidente da República eleito, que assumirá funções a 9 de Março, sucedendo a Cavaco Silva.
Os anos de comentador político não passaram despercebidos ao El Pais, que na página de entrada do seu site coloca as eleições presidenciais em Portugal com algum destaque: "Portugal elege Presidente o conservador Rebelo de Sousa".
Numa altura em que Espanha ainda não sabe o desfecho da governação depois das eleições de 20 de Dezembro, a formação de governo no país vizinho é assunto de destaque. Mas também o El Mundo destaca a eleição de Marcelo no seu site. E no interior da notícia, o título: "Professor Marcelo, o português que nunca dorme". Também este jornal espanhol lembra que Marcelo Rebelo de Sousa foi jornalista e durante mais de uma década comentou a actualidade política na televisão lusa. Por isso, "é uma figura mediática respeitada e querida por grande parte dos portugueses".
O La Vanguardia acaba por dar algum destaque, no seu texto, às palavras de António Costa, primeiro-ministro, de partido político contrário a Marcelo. O jornal espanhol, no entanto, lembra que Costa advogou uma convivência pacífica e cordial entre ambos. O primeiro-ministro que governa desde o final do ano passado graças a uma aliança com a esquerda radical, diz o jornal, lamentou a elevada abstenção, ainda que se tenha congratulado pelo facto dos portugueses terem "rejeitado claramente as candidaturas populistas e que se apresentavam como anti-sistema".
Por fim o La Vanguardia lembra que o PS optou por não apoiar qualquer um dos candidatos, contrariamente ao que fez a oposição que apoiou Rebelo de Sousa.
Em França, a notícia da vitória de Marcelo Rebelo de Sousa é das 21:21 (em Paris é uma hora a mais do que em Portugal), tendo sido actualizada às 22:40. E nesta notícia fala-se, também, do facto de Marcelo ser "vedeta de televisão" e ser o favorito no escrutínio. E lembra que um dos poderes do Presidente é a dissolução do Parlamento, "uma arma decisiva" uma vez que, lembra o jornal, um governo socialista está no poder desde Novembro com "uma aliança frágil" com a esquerda radical.
Mais estranho é a forma do Libération pegar no tema das eleições presidenciais. Opta por um texto da AFP em que se fala do boicote na vila de Muro, no Norte. É uma notícia das 17:17 e que volta à página online do jornal francês perto das 20 horas. O Libération não tem qualquer outra notícia sobre as eleições portuguesas, excepto da que fala do boicote da vila com 1.600 eleitores.
No Le Fígaro fala-se de França, da visita de Hollande à Índia, e da Grécia, mas há ainda espaço para Portugal na página de entrada do jornal francês. "Rebelo de Sousa eleito Presidente à primeira volta" é o título da notícia. Também aqui Marcelo Rebelo de Sousa é falado como vedeta de televisão.
O Financial Times, que este domingo tinha uma entrevista com António Costa, escreve que a vitória de Marcelo de Rebelo de Sousa é um importante impulso para o PSD. O Financial Times, dizendo que Rebelo de Sousa se gaba de ler dois livros por dia e dormir não mais de cinco horas e lembrando os anos que passou como comentador, recorda que o candidato prometeu usar os poderes presidenciais para impedir crises políticas. É ainda este jornal britânico que recorda que estas eleições marcam o fim da carreira política de Cavaco Silva, que foi primeiro-ministro de 1985 a 1996 e Presidente desde 2006.
A BBC faz uma notícia relativamente curta onde se fala da vitória de "Sousa", mas é o suficiente para o órgão de comunicação social britânico lembrar que o Presidente tem o poder de dissolver a Assembleia. Conta a BBC que os observadores acreditam que a coligação de esquerda poderá ser afectada em menos de um ano, pelo que o Presidente poderá, então, ter de desempenhar um papel mais activo.
É também de equilíbrio político que fala o Washington Post, dizendo que Portugal "precisa de todo o consenso possível já que um governo socialista frágil dependente dos partidos mais à esquerda para apoio parlamentar tenta reconciliar as suas promessas eleitorais para pôr fim à austeridade económica com promessas à União Europeia de corte no défice orçamental". Num artigo assinado por um jornalista da Reuters, o Washington Post ainda diz que os partidos de esquerda acusaram Rebelo de Sousa de poder ajudar ao regresso das políticas económicas na direita, mas durante a campanha Marcelo utilizou um tom conciliador, dizendo que Portugal precisa de "mais justiça social".
A fragilidade política é igualmente falada pelo The New York Times, que também lembra o contra-peso que Marcelo Rebelo de Sousa pode ser na política nacional.
Mais lidas