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A imensa obra que Lisboa não vê

São cerca de 200 trabalhadores e quase 140 máquinas que escavam todos os dias, a quase 40 metros de profundidade, a pedra de que é feita Lisboa, na construção da primeira obra da linha circular do metro.

01 de Fevereiro de 2022 às 10:30
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Oito meses e 110 mil metros cúbicos de terra depois, a primeira obra do plano de expansão do Metro de Lisboa para a construção da futura linha circular vai a meio.

No estaleiro do liceu Pedro Nunes, o poço de ventilação construído quando o metropolitano chegou ao Rato permite a descida a uma cidade subterrânea, que se expande diariamente a 38 metros de profundidade. Três estratos geológicos abaixo da avenida Álvares Cabral, foram já escavados 400 metros de túnel, avançando a obra neste momento quatro metros por dia.

O contrato, no valor de 48,6 milhões de euros, foi fechado com a Zagope em maio de 2020, tendo a empreitada – o chamado lote 1 –  arrancado em abril do ano passado, dando início à construção da linha que no final de 2024 unirá o Rato ao Cais do Sodré, acrescentando à rede dois quilómetros e duas novas estações.

Sem que grande aparato se veja à superfície, a obra Rato-Santos está em curso em três frentes, com estaleiros no Pedro Nunes, na Estrela e no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG).

Junto ao liceu não se veem mais do que os tapumes que ocultam o cenário de operações, mas o túnel já chegou ao término da estação do Rato, após a escavação de 163 metros, e para o lado oposto avança diariamente em direção à futura estação da Estrela, que será instalada no edifício da farmácia do antigo hospital militar. Falta ainda escavar 200 metros, mas o caminho aberto no subsolo está já próximo da zona do Jardim da Estrela.

A 60 metros de profundidade

Descendo pelo poço de ventilação do estaleiro do Pedro Nunes, uma imagem de Santa Bárbara protege os mineiros na galeria subterrânea, à qual não chega a luz do dia nem os sons da capital. Vários veículos percorrem, nos dois sentidos, o caminho que é hoje de terra, mas que um dia será via férrea. Máquinas de ataque pontual e roçadoras (equipamentos com a aparência de retroescavadoras) vão picando e desgastando a rocha, de calcário e margas, para dar sequência ao túnel, num trabalho em que se alterna escavação e suporte.

O avanço ganho à rocha não é feito por tuneladora. O Metro de Lisboa já teve duas, mas hoje não tem nenhuma. Foi em 2008, no prolongamento entre Alameda e São Sebastião, que uma destas supertoupeiras foi usada pela última vez na capital, e não o será em qualquer das obras da futura linha circular, já que a utilização da gigantesca máquina  nesta escavação – que atinge pelo menos 60 metros de comprimento e 9 de diâmetro – não se justifica economicamente, tendo em conta a extensão do túnel e o custo e o tempo de montar um estaleiro que a possa receber, explica ao Negócios Ricardo Machado, diretor coordenador de Empreendimentos do Metro de Lisboa.

Também sem espectadores, na Estrela decorre a escavação do poço de ataque que terá 28 metros de diâmetro e 60 de profundidade, o equivalente a um edifício de 20 andares. A perfuração já permitiu chegar aos 35 metros e a dimensão da cratera faz parar a respiração. No fundo, algumas máquinas removem a rocha com milhões de anos, avançando 40 centímetros por dia. É por este poço que entrará maquinaria para escavar a estação da Estrela. Hoje são à volta de 14 os camiões com destino aos vazadouros que diariamente saem de cada frente de obra.

A entrada na estação da Estrela ocupará dois terços do rés do chão do edifício da farmácia do antigo hospital militar, e será, com os seus 60 metros abaixo do nível do solo, a mais profunda de toda a rede do metro. Inevitável neste processo de expansão, tendo em conta que o desnível máximo que o metropolitano pode vencer é de 4%.

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