AstraZeneca investe 50 mil milhões nos EUA e junta-se à corrida do "made in America"
Farmacêutica britânica planeia construir nova fábrica nos EUA e expandir unidades existentes, num esforço para reforçar a produção local e responder à pressão tarifária de Donald Trump.
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A AstraZeneca vai investir 50 mil milhões de dólares (cerca de 42,7 mil milhões de euros ao câmbio atual) na capacidade industrial nos Estados Unidos até 2030, numa jogada que segue o exemplo de gigantes como a Johnson & Johnson (J&J) e a Eli Lilly, que já anunciaram compromissos superiores a 200 mil milhões de dólares no total durante os próximos anos. Este será o maior investimento da farmacêutica britânica em solo norte-americano até à data, anunciou a empresa.
O plano inclui expansões de instalações em Maryland e Massachusetts, bem como a construção de um novo centro de produção na Virgínia, que será o "pilar" desta aposta. Segundo a AstraZeneca, o novo complexo será dedicado à produção de substâncias ativas para medicamentos inovadores nas áreas da gestão de peso e doenças metabólicas, como os comprimidos orais GLP-1, baxdrostat e outras terapias baseadas em pequenas moléculas, peptídeos e oligonucleótidos.
“O investimento está centrado numa nova unidade de produção de última geração que nos permitirá levar terapias acessíveis a mais pacientes em todo o mundo”, afirmou a farmacêutica, em comunicado.
De acordo com Pascal Soriot, presidente executivo (CEO) da empresa, os EUA já representam 42% das receitas da AstraZeneca. O objetivo é elevar essa fatia para 50%, cita a Yahoo Finance. “Apostámos nos GLP-1 orais porque acreditamos que serão mais baratos, mais acessíveis e mais fáceis de exportar globalmente”, explicou.
Este movimento insere-se numa tendência mais ampla da indústria farmacêutica: reforçar a presença industrial nos EUA como resposta à política de “reshoring” (relocalização da produção) promovida por Donald Trump, que ameaça impor tarifas à importação de componentes farmacêuticos a partir de 1 de agosto.
Apesar de reconhecer que as tarifas representam um risco para algumas empresas, Soriot sublinha que a AstraZeneca está relativamente protegida e ficará ainda mais com os novos investimentos. “As tarifas são uma ameaça, mas estamos em boa posição para lhes fazer frente graças à nossa nova estratégia”, defendeu.
Com este novo compromisso, que se soma aos 3,5 mil milhões já anunciados em 2024, a AstraZeneca posiciona-se como a segunda maior investidora estrangeira na indústria farmacêutica norte-americana, atrás apenas da Johnson & Johnson, que prometeu 55 mil milhões de dólares.
A indústria tem pressionado a administração Trump para adiar ou suavizar os prazos das tarifas, argumentando que relocalizar fábricas exige tempo. Joe Wolk, diretor financeiro da J&J, confirmou que a empresa já discutiu o tema com o presidente, enquanto Dave Ricks, CEO da Eli Lilly, sugeriu publicamente que o setor poderia aceitar produzir medicamentos genéricos e menos lucrativos em troca da isenção tarifária.
Neste cenário, o plano da AstraZeneca não é apenas uma jogada económica, mas também uma resposta política e estratégica ao novo contexto regulatório dos EUA. Para além disso, a empresa britânica tem vindo a expandir-se para outras geografias. Em maio, a AstraZeneca anunciou o investimento de 600 milhões num novo “hub” em Lisboa, que empregará 500 pessoas e espera-se que esteja pronto até ao final do ano.
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