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Marcília Montenegro arrasa Portos 5+ do Governo: “Corre o risco de ficar suspenso no tempo”

A presidente da Comunidade Portuária de Leixões considera que o plano de investimento de quatro mil milhões de euros para os portos “define pouco sobre execução”, “carece de fundamentação justificativa” e “confunde vontade com necessidade, ignorando a viabilidade e a sustentabilidade”.

Marcília Montenegro, presidente da Comunidade Portuária de Leixões.
Marcília Montenegro, presidente da Comunidade Portuária de Leixões. D.R.
22:00

“A Comunidade Portuária de Leixões não é órgão de decisão, mas de catalisação e interligação coletiva, inspirada pela força de quem vive o porto todos os dias. Faz as perguntas, pede esclarecimentos, pronuncia-se sobre muitas questões, que às vezes ficam esquecidas nos gabinetes: O plano funciona no terreno? A operação aguenta a teoria? O projeto serve o porto na sua função de serviço público?

O arranque da intervenção da nova presidente da Comunidade Portuária de Leixões, na Porto Maritime Week, organizada pelo Transportes & Negócios, agarrou de imediato a atenção da plateia, considerando que o porto é, “no fundo, o lugar onde se garante que a estratégia não se afoga em marés políticas, nem em interesses singulares”.

Em causa o Portos 5+, nome do plano do Governo para os portos do continente, que prevê um investimento, nos próximos 10 anos, da ordem dos quatro mil milhões de euros, dos quais 1,13 mil milhões no de Leixões.

Marcília Montenegro, que participava na manhã desta terça-feira, 23 de setembro, num painel de debate com os seus congéneres nacionais, intitulado “O Olhar das Comunidades Portuárias”, concordou que “o plano nacional parece ter nascido bem – dos planos estratégicos apresentados por cada uma das administrações portuárias”, tendo ido “ouvir antes de escrever”.

E que esta até foi “a primeira tentativa séria de olhar para os portos portugueses como um sistema integrado”.

Contudo, “no processo de síntese, o mosaico rico das especificidades locais foi transformado numa tela em tons neutros. Todos diferentes, todos iguais... e, na versão final, demasiado iguais”, pincelou Marcília Montenegro.

“O Portos 5+ fala muito de ambição, mas define pouco sobre execução”, criticou, considerando que o plano do Governo “carece de fundamentação justificativa. Em alguns aspetos, confunde vontade com necessidade, ignorando a viabilidade e a sustentabilidade”, atirou a presidente da Comunidade Portuária de Leixões, que também é administradora do TCGL, concessionária do terminal de carga geral e granéis de Leixões.

“Os recursos não estão quantificados, os prazos não estão claros: é um plano que corre o risco de ficar suspenso no tempo”, alertou Marcília Montenegro, lamentando que as comunidades portuárias, que “representam a realidade concreta da energia empresarial dos portos, aparecem quase como nota de rodapé”.

“E o tal grupo de trabalho legislativo surge como promessa, mas sem mapa de rota. Um farol não basta para guiar um navio”, apontou.

Sobre Leixões, recordou que embora este porto tenha “um ‘hinterland’ industrial sólido e uma posição estratégica”, também “tem condicionantes físicas que não podem ser ignoradas”, daí que “precisa de decisões cirúrgicas – investimento seletivo, eficiência logística, simplificação de processos”, elencou.

“Não vive de discursos genéricos. Nem de ânsias individuais. Vive da rapidez com que um contentor sai para a estrada, da confiança com que uma empresa exporta”, frisou Marcília Montenegro, rematando que é aqui que a comunidade portuária a que preside “assume um papel único: garantir, quando responsavelmente ouvida, que a estratégia portuária não é apenas uma promessa em papel ‘couché’, um desejo por capricho, mas um plano que se concretiza em produtividade no cais”.

Ora, Montenegro afiançou que a Comunidade Portuária de Leixões “não emitiu parecer” sobre o Plano Estratégico de Leixões, “tendo apenas participado nas reuniões sobre o mapa da organização do porto”.

“É importante sublinhar esta diferença: aprovar um plano é assumir concordância com objetivos, prioridades, investimentos e prazos; aprovar apenas um mapa é reconhecer uma representação física”, distinguiu.

Como “a comunidade portuária não pode ser apresentada como tendo validado um plano estratégico que não discutiu nem aprovou”, para Marília Montenegro “o risco é transformar um exercício técnico e consultivo numa chancela política, esvaziando o verdadeiro papel” da Comunidade Portuária de Leixões.

Montenegro insistiu - “o Portos 5+ nasceu do lugar certo, dos portos e das suas realidades”, mas, “ao consolidar-se, perdeu densidade e clareza, transformando diferenças em uniformidade”, contrapôs.

“O verdadeiro desafio é transformar intenções em decisões, mas decisões tomadas com efetivo apoio solidário, as únicas que poderão garantir resultados visíveis”, preconizou, com a comunidade portuária que lidera a assumir-se como “ponte entre ambição e realidade, lembrando que um plano só vale se resistir à prova da operação”.

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