pixel
A carregar o vídeo ...
Em direto Negócios Iniciativas

Millennium Portugal Exportador 2025

Negócios: Cotações, Mercados, Economia, Empresas

Notícias em Destaque

Maya vê uma "nova ordem mundial". E aponta desafios para as empresas

CEO do BCP fala num mundo que vive uma “etapa de convulsões”, exigindo às empresas e aos empresários capacidade de adaptação. Há vários desafios neste “tempo de transição”, mas também são, diz, oportunidades.

Miguel Maya defende a solidez financeira do BCP e a estratégia de diversificação
Miguel Maya defende a solidez financeira do BCP e a estratégia de diversificação João Cortesão
11:25

O mundo como o conhecíamos, mudou. Os tempos são de “convulsões que indiciam um período de transição para uma nova ordem mundial”. Miguel Maya vê, neste contexto, vários desafios para as empresas portuguesas, elencando nove que considera principais: das migrações às alterações climáticas, passando pela inteligência artificial. É necessário que os empresários se adaptem e, acredita, conseguindo fazê-lo, há oportunidades.

Na abertura do Millennium Portugal Exportador 2025, o CEO do BCP fez um retrato do que considera serem os tempos atuais. Aponta para uma “nova ordem mundial, com uma configuração substancialmente diferente da que vivemos desde o final da Segunda Guerra Mundial, o que vai exigir ajustamentos no tecido empresarial e como a sociedade se organiza”.

Esses ajustamentos traduzem-se numa série de “desafios” para as empresas portuguesas. E, em menos de dez minutos, explanou os vários riscos que antecipa para as pessoas, para as empresas e empresários, mas também para a economia nacional.

“O impacto das múltiplas convulsões, como a invasão da Ucrânia, a guerra na Palestina, ou outros conflitos globais, que nos trazem à memória o pior da natureza humana”, são um exemplo dos desafios que enfrentamos, salientou Maya.

O CEO aponta também para o “fenómeno das migrações e as reações epidérmicas. O discurso simplista de que é um tema de sim ou não aos imigrantes é errado. É um discurso deslocado. É errado associar o tema a uma agenda de esquerda ou direita. É um tema que é da maior importância para o futuro de Portugal e este Governo, felizmente, está a agarrar o tema. Tem, não só a consciência que a imigração tem para o desenvolvimento económico e social de Portugal, mas também a necessidade de assegurar uma Imigração controlada que não crie reações por parte da sociedade, de não aceitação, de divisão, de fragmentação. Há que ter política definida que assegure a integração dos migrantes”.

Miguel Maya falou ainda sobre o “fenómeno da longevidade”, que, salienta o responsável do banco, “está ligado com as migrações”.

A alteração das dinâmicas laborais e da vida em sociedade” são outro ponto salientando pelo CEO do banco. “Procuram-se soluções para criar condições que permitam acelerar o desenvolvimento económico e que reforcem o Estado social. Num mundo mais volátil e imprevisível, justifica-se uma reflexão séria sobre o contrato social e o papel que compete às empresas e ao Estado. É imperativo garantir a flexibilidade e o enquadramento para as empresas se adaptarem, o que requer maior flexibilidade laboral, mas também requer assegurar que o Estado tem condições de proteger os trabalhadores que são afetados por esse imperativo de flexibilidade o qual resulta do enquadramento económico, mas também o surgimento de uma tecnologia de uso genérico e abrangente como é a inteligência artificial”.

Maya acrescentou que “não há, para problemas complexos, soluções fáceis e simples de implementar. A chave para assegurar uma boa solução passa por aumentar a produtividade e a riqueza criada pelo tecido empresarial”.

E em tom de desabafo, salientou que “perdemos demasiado tempo em formações teóricas que formam equações de soma nula em que o esforço se centra em equilíbrios precários que querem diminuir a uns para aumentar a outros quando o esforço principal deverá concentrar-se no aumento da geração de valor para haver muito mais para distribuir”.

Para Maya, “importa também reforçar as redes públicas de suporte que assegurem o apoio público às camadas mais fragilizadas e carenciadas da população”. “Vivemos num mundo em que há muito mais desigualdades à escala global, mas muito mais à escala local. Este fenómeno leva a extremismos, a um deslaçar da sociedade para o qual temos de ser capazes de encontrar soluções inovadoras”, rematou.

“A fragmentação geopolítica e os revezes na globalização” são outro desafio apontado por Miguel Maya. “As tarifas nos EUA estão ao nível a que estavam há um século. Só este facto diz muito do que se está a passar demonstra que temos de mudar a forma de escrever o futuro”, disse.

“Vamos assistir nas próximas décadas a uma maior fragmentação da globalização com vista a reduzir riscos de dependência de fornecedores e mercados dominantes, conferindo menor eficiência, mas maior resiliência às cadeias de valor”, salientou.

O CEO do BCP apontou para o facto de o PIB mundial estar a abrandar. “Tem novas centralidades, novos protagonistas. As democracias liberais voltaram a representar menos de 50% do PIB mundial”, disse, acrescentando que “esta nova realidade requer novas formas de interação com sistemas que são diferentes do nosso, mas que têm de ser capazes de respeitar os valores da civilização ocidental”.

Maya apontou ainda para as alterações climáticas e a transição energética. “Não se trata de uma moda ou algo que se possa protelar em função do que protagonistas centrais possam deliberar a cada momento. O grande desafio que se coloca a Portugal é perceber o contexto e as tendências, mas também ajustar as prioridades. A transição é, sem dúvida, fundamental, inadiável, mas para Portugal a adaptação é ainda mais importante”, disse.

A fechar, lembrou a “afirmação de novas tecnologias que permitem potenciar a competitividade das empresas. É muito importante a regulação, mas temos de saber calibrar a regulação de forma que a Europa, em particular Portugal, continue a poder ser competitiva à escala global, não se condenando a si própria por se autolimitar”.

E deixou críticas ao que se faz por cá: “Em Portugal, há o ‘gold plating’, que se trata de criar uma camada adicional de legislação, dar mais um requisito em termos de legislação que tantas vezes, quando se transpõe uma diretiva europeia, prejudica a agilidade, flexibilidade e capacidade de adaptação das empresas”.

Maya diz que estamos a viver um “tempo de transição”, com todos estes desafios, mas também “significa múltiplas oportunidades para Portugal”. E vaticina que os “mais ágeis, que melhor se preparem, vão sair vencedores”.

Ver comentários
Publicidade
C•Studio