Tarifas de Trump moem fabricante suíça de máquinas de café para a Starbucks
Thermoplan e outros fabricantes suíços já perderam 3 mil empregos e preveem até 30 mil cortes no setor até 2026.
A emblemática ligação entre a cadeia de cafés Starbucks e a empresa suíça Thermoplan, fabricante de máquinas de café situada à beira do Lago Lucerna, está agora sob séria ameaça. A imposição de taxas aduaneiras dos Estados Unidos, anunciadas a 7 de agosto, estabeleceu um imposto de 39% sobre os produtos suíços. O impacto é particularmente severo para a Thermoplan, que fornece grande parte das máquinas de café à Starbucks.
De acordo com a Reuters, o CEO da Thermoplan, Adrian Steiner, calcula que os encargos, combinados com tarifas adicionais sobre metais industriais, estão a custar cerca de 200 mil francos suíços por semana (cerca de 213 mil euros). “Estamos a sangrar,” admite Steiner. “Claro que isto não é um negócio lucrativo para nós. Não temos margens que suportem tal carga”.
A pressão é tal que a empresa já iniciou planos para transferir parte da produção para a Alemanha, beneficiando das tarifas mais baixas da União Europeia e pediu às autoridades alfandegárias norte-americanas garantias de que os produtos seriam considerados de origem europeia. Steiner espera resposta num mês, mas admite recear que a solução não convença Washington. Caso não resulte, a única alternativa poderá ser mudar as operações para os EUA, uma decisão que exigiria pelo menos dois anos de preparação e poderia esbarrar na escassez de mão de obra qualificada.
A Starbucks, que representa 32% das vendas da Thermoplan, sendo dois quintos desse valor no mercado norte-americano, assegurou que tem uma longa experiência em lidar com choques globais e está a cooperar estreitamente com o seu fornecedor para mitigar os efeitos das tarifas. Desde abril e de acordo com a Reuters, as duas empresas dividem os custos adicionais impostos pela política comercial de Donald Trump.
A Thermoplan, que emprega mais de 500 pessoas em Weggis, tornou-se um símbolo do sucesso da globalização nos anos 1990, fornecendo também gigantes como a McDonald’s e a Nestlé. Contudo, 98% da sua produção é destinada à exportação e 82% dos seus componentes ainda são fabricados na Suíça, um modelo que agora está sob risco.
Os efeitos das tarifas vão muito além de Weggis. Segundo a associação Swissmem, cerca de 80% das exportações suíças do setor mecânico e elétrico para os EUA, avaliadas em 10 mil milhões de francos no último ano, podem desaparecer se o desfasamento tarifário se mantiver (39% para a Suíça contra 15% para a UE). Um inquérito da associação revelou que quase um terço das empresas já pondera transferir produção para território comunitário.
A sangria já começou: cerca de 3 mil postos de trabalho no setor desapareceram entre o primeiro e o segundo trimestre deste ano, número que pode chegar aos 30 mil até 2026, alerta Jean-Philippe Kohl, vice-diretor da Swissmem.
A incerteza alastra também à política suíça. As negociações com Washington estão em curso, mas a descrença é palpável. Em Weggis, Marcel Waldis, responsável pelas finanças municipais, não esconde a frustração: “Os EUA são um país fascinante, tanto do ponto de vista económico como geográfico. Mas neste momento estou profundamente desiludido. Como é possível que uma nação tão grande dependa apenas de uma voz?”.
Steiner, por seu lado, teme que as políticas norte-americanas criem um precedente global: “Se Trump conseguir o que quer com esta política de força, o perigo de outros países seguirem o exemplo é enorme. Depois teremos o China First, o Índia First e o Rússia First”.
De acordo com o The Wall Street Journal, este embate tarifário está a desencadear uma reavaliação da neutralidade suíça e da sua posição entre grandes blocos globais. Segundo relatórios recentes, cresce o sentimento de que a política de “não alinhamento” pode ter deixado o país vulnerável, aumentando o debate interno sobre estreitar laços com a União Europeia como forma de salvaguardar a competitividade internacional.
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