"Reformas ousadas são postas em risco por tímidas ações". Telcos pedem mais atitude
Os operadores de telecomunicações voltaram a escrever a Bruxelas, pedindo urgência numa reforma que se tem vindo a tornar tardia e que avance com a publicação da Lei das Redes Digitais
As empresas de telecomunicações continuam a pressionar Bruxelas para agilizar as reformas no âmbito da digitalização. A CEO da Altice Portugal, Ana Figueiredo, foi uma das 23 assinaturas na carta que teve como destino a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Para os líderes destas telecoms, a Europa está a ficar demasiado para trás.
"A realidade é que a Europa - que outrora liderou - hoje está atrás de outros grandes mercados em várias áreas, desde o crescimento económico à segurança e ao fomento da inovação. Com reformas favoráveis ao investimento, as nossas empresas estão prontas para dar um passo em frente e estamos convencidos de que podemos atrair ainda mais investimento", lê-se na missiva.
O grupo também é consistente com os pedidos que tem vindo a fazer à Comissão Europeia. No último pedido, datado de julho, pediam uma estratégia ambiciosa para manter a competitividade global, voltando a reforçá-lo. Os mais de 20 líderes escrevem a Von der Leyen para expressar "a séria preocupação pelo facto das reformas ousadas, urgentemente necessárias para garantir o futuro digital da Europa, estarem a ser postas em risco pelas lentas e tímidas ações da Comissão".
Os líderes europeus, onde se inserem Ana Figueiredo, Allison Kirkby da British Telecom, Marc Murtra da Telefónica ou Margherita Della Valle da Vodafone, pedem que Bruxelas comece a colocar em prática as reformas que foram recomendadas no relatório de Mario Draghi, que foi "amplamente aceite como a direção certa para a Europa, merecendo ser posto em prática com o mais alto nível de ambição".
Acusando a Europa de "optar por políticas fragmentadas e destrutivas em termos de valor" quando "players" como os Estados Unidos e a China escalavam grandes investimentos para crescer, os líderes falam da "perda de liderança em conectividade", o que coloca "ameaças reais à competitividade e segurança digitais futuras da Europa". E o exemplo é dado: "apenas 2% dos europeus se ligam a redes 5G standalone, em comparação com um quarto dos americanos e mais de 77% na China".
Nas suas visões, o bloco europeu está a perder "enormes oportunidades, tanto económicas quanto sociais, nomeadamente no que diz respeito à obtenção do valor máximo dos dados industriais e à exploração do verdadeiro potencial de IA". Assim, os líderes apontam que o caminho deve ser priorizar as redes 5G standalone para assegurar a competitividade europeia, uma vez que estas são transversais a várias indústrias, ou estas potências industriais arriscam-se a ser um "castelo de cartas sem a conectividade necessária para explorar, expandir e tirar partido de novos serviços".
Por isso mesmo, o pedido vai no sentido de aproveitar a Lei das Redes Digitais (DNA, na sigla inglesa), considerando-a como "uma oportunidade crucial". "A soberania, segurança e capacidade da Europa de proteger os seus valores dependem do cumprimento da promessa da Comissão de realizar uma reforma séria", sustentam.
Assim, e com olhos na consolidação do mercado das telecomunicações, admitindo que não há espaço para mais de 100 operadores em 27 países, os operadores lembram que "não é barato" criar e manter infraestruturais digital, com os sucessivos investimentos a superarem os 500 mil milhões de euros ao longo da última década só com a implementação do 5G. "A menos que a Comissão tome medidas ousadas com a intenção claramente declarada de responder à necessidade de escala, as indústrias europeias continuarão a não ter força para investir ao mesmo ritmo que os seus concorrentes nos EUA, na Ásia e noutros mercados", alertam os líderes.
E os operadores terminam com o pedido para Bruxelas "reconhecer a ligação entre escala e investimento, e um quadro regulamentar bastante simplificado que aumente as capacidade de investimento para todos os setores no contexto da comunicação e computação".
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