Mar Vermelho: portos secundários do Leste e Sul do Mediterrâneo são os mais afetados

A rota pelo Cabo da Boa Esperança congestiona e coloca pressão nas “limitadas” infraestruturas portuárias africanas. O impacto do conflito só será sentido em fevereiro, mas a DBRS afirma que os portos do Norte da Europa são os menos afetados, apesar das condições meteorológicas desfavoráveis.
Luís Guerreiro
Bárbara Cardoso 05 de Fevereiro de 2024 às 18:30

O impacto dos ataques ao transporte marítimo causado pelo conflito no Mar Vermelho está aos poucos a chegar aos portos de abastecimento internacionais, tantos dos que fazem parte do percurso habitual pelo Canal do Suez, como os da nova rota alternativa - o Cabo da Boa Esperança.

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Com mais 10 a 15 dias de viagem, o trajeto ao redor de África faz com que os navios se dirijam diretamente para os portos principais do Norte da Europa e Mediterrâneo Ocidental, em detrimento dos portos secundários do Leste e do Sul mediterrânico, afirma o novo estudo da agência de "rating" canadiana DBRS Morningstar.

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Segundo a agência, isto cria um "congestionamento significativo" nos portos do continente africano e coloca pressão nas infraestruturas portuárias do país, devido à sua capacidade limitada. A DBRS acredita que estes portos são os mais afetados pelo conflito no Mar Vermelho e que vão exceder as suas capacidades em breve, assim como "vão enfrentar algumas reduções temporárias nos volumes".

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"Consideramos que alguns portos estarão mais bem preparados para absorver o aumento de volumes do que outros portos mais pequenos e menos bem preparados, que normalmente não fariam parte de uma rota comercial tão grande", afirma a DBRS.

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Afetados serão também os portos na rota comercial do Médio Oriente e Ásia para a Europa. As grandes transportadoras marítimas estão a reduzir a quantidade de navios e mercadoria enviados ou optam pela rota do Cabo da Boa Esperança.

 

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"Como atenuante para potenciais quedas de volume, os portos têm uma proporção das suas receitas sob contratos de longo prazo, assim como têm alguns contratos ‘take-or-pay’, que os protegem de uma maior volatilidade das receitas", assegura a agência de rating.

 

A DBRS diz que o impacto da mudança de rota vai começar a ser mais percetível em meados de fevereiro. Apesar de já haver diferenças no fluxo, o mês de janeiro foi de pouco impacto para os volumes de mercadorias nos portos visados.

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Norte da Europa seguro, apesar do mau tempo

 

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Mais protegidos da queda de volume estão os portos de grande escala no norte da Europa, como porto de Roterdão ou o de Antuérpia, o primeiro e o segundo maior do continente, respetivamente, dado que continuam a ser o destino final dos navios que percorrem o Cabo da Boa Esperança. Assim, os fluxos de caixa destes vão permanecer estáveis, assegura a DBRS.

 

No final de 2023, os dois grandes portos apresentaram uma queda entre 20% a 30% no número de navios de carga, num "impacto de curto prazo", afirma a agência de rating, e que está agora totalmente recuperado.

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Ainda assim, vão sofrer um congestionamento devido a implicações operacionais geradas pela demora da nova rota. O período de férias de Natal e as "condições meteorológicas desfavoráveis" levaram ao encerramento de terminais e à paralisação da navegação no norte da Europa, que atrasou ainda mais as operações.

 

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Pelo contrário, os portos do mediterrâneo oriental e central serão "potencialmente os mais afetados pelo reencaminhamento para a Europa (…) uma vez que esperamos que o número de grandes navios diminua", escreve a DBRS.

 

Em risco estão também os volumes portuários italianos, já que cerca de 40% do comércio marítimo internacional do país depende da rota do Mar Vermelho.

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Na Grécia, caso o conflito não termine em breve, o Porto do Pireu, o quinto maior da Europa, vai registar quedas de 30% ou mais mas, para já, "os volumes têm sido até agora bastante estáveis", conclui o estudo. 

 

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No Canal do Panamá, as secas severas fizeram cair em 40% o número de embarcações que por lá circulam, em comparação com o ano anterior. Algumas grandes companhias marítimas, como a Maersk, já substituíram temporariamente o transporte marítimo pelo ferroviário nesta região, finalizou a DBRS.

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* Texto editado por Pedro Curvelo

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