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Lagarde divide atenções entre escalada da inflação e subida dos juros de dívida

Há vários fatores que estão a ser usados pelos membros mais conversadores do BCE para pressionarem uma retirada de apoios. São eles a subida da inflação ou o plano de vacinação. Por outro lado, a imprevisibilidade do vírus e os juros de dívida preocupam.

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lagarde Kai Pfaffenbach/Reuters
09 de Setembro de 2021 às 08:30
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A FAVOR

Há várias razões a favor de uma retirada de estímulos monetários por parte do Banco Central Europeu (BCE) e que têm sido referenciados pelos membros mais conservadores da instituição. Um destes motivos é a escalada da inflação, que no mês de agosto se situou nos 3%, de acordo com o instituto de estatística da União Europeia, o Eurostat. Este valor fica acima dos 2% definidos pelo BCE como a meta fixa para este indicador. E na revisão de julho, Christine Lagarde, a líder do BCE, frisou que era tão indesejável um valor acima desse patamar, como abaixo, no médio prazo.

Outra das razões evocadas passa pela evolução das próprias economias da região, mas que continuam - a grande maioria - abaixo dos níveis pré-covid. O plano de vacinação contra a covid-19 está a ser bem-sucedido na União Europeia (UE) e nesta altura há 70% de cidadãos que já tomaram ambas as doses contra a covid-19 e 80% já levaram pelo menos uma das doses. E países como Portugal, Bélgica e Dinamarca já vacinaram totalmente 80% dos habitantes. Mas há outros muito aquém da média da UE. É o caso da Roménia e da Bulgária que contam apenas com 20% e 32% dos cidadãos totalmente vacinados, respetivamente. Aliada ao avanço dos planos de vacinação contra o coronavírus entre os países da região, o número de novos casos tem diminuído, o que poderá abrir portas a um regresso de uma postura mais conservadora da autoridade bancária.

Por fim, existe o receio geral de que o BCE esteja a ser responsável por criação de dívida irresponsável. “ Um dia, o BCE vai ter de lidar com o ‘elefante na sala’: a pandemia levou a níveis recordes de dívida nos países da Zona Euro e foi um catalisador da divergência entre Estados”, diz Franck Dixmier, analista da Allianz GI, que ainda assim nota que o BCE conseguiu manter um nível de repressão financeira que torna sustentável o peso da dívida, algo indispensável a alguns países.

CONTRA

Mas apesar de toda a pressão que Lagarde carrega às costas, o apoio dos membros menos conservadores do BCE - principalmente no sul da Europa - tem-se revelado fundamental para a continuação de uma política mais acomodatícia. Foi o caso de Yannis Stournaras, governador do banco da Grécia, que disse que o BCE não devia olhar para a subida de preços com uma preocupação que o próprio considera que não merece. Aliás, foi precisamente esta a ideia defendida pelo economista do Pictet, Frederik Ducrozet, que mais do que o “ataque” dos falcões, defendeu que o essencial é o apoio das “pombas”.

Outro aspeto que estará, certamente, na retina de Lagarde é a imprevisibilidade que advém da pandemia. Os planos de vacinação estão a avançar a um ritmo que mereceu elogios por parte da líder da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Mas a ideia da necessidade de uma eventual terceira dose está em cima da mesa, mas não se sabe ainda quando e se começará a ser administrada. No campo económico, a maioria dos países da Zona Euro tem conhecido fortes recuperações face à derrocada sofrida no ano passado. Ainda assim, não haverá muitos países que conseguiram ultrapassar os níveis pré-covid. A exceção à regra vem de um país do Sul: a Grécia. Por fim, há a histórica questão dos juros da dívida soberana dos países da região, com especial atenção para países como Itália, Grécia, Portugal e Espanha - graças aos fantasmas da crise de dívida com início há cerca de uma década. E o alarme já foi dado quando o Eurostat divulgou os números de agosto da inflação (nos 3%), que desencadeou uma chuva de pressão por parte dos falcões.

Os juros de dívida de todos os países da região estão a sofrer subidas desde que os últimos dados dos preços do consumidor foram divulgados. Agora, resta perceber se o discurso de Lagarde será capaz de os conter ou vai provocar um disparo.

 

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