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Mercado de capitais: “É a reforma estrutural de que ninguém fala”

António Ramalho e Gonçalo Moura Martins analisam as causas da falta de atratividade do mercado de capitais português e propõem incentivos. Novo episódio do podcast Partida de Xadrez vai para o ar esta segunda-feira.

O mercado de capitais é o tema do 38.º episódio.
O mercado de capitais é o tema do 38.º episódio.
12:00

“O mercado de capitais é um problema estrutural da sociedade portuguesa”, afirma António Ramalho no 38.º episódio do podcast Partida de Xadrez que vai para o ar esta segunda-feira no site do Negócios e nas principais plataformas, salientando que “estamos perante uma reforma estrutural de que ninguém fala”, que “só se faz com discriminação positiva, aumentando o apetite a risco de uma sociedade por inteiro”.  

Também Gonçalo Moura Martins defende que só criando “incentivos significativos – o que só pode ser pelo lado fiscal – é que o mercado de capitais conseguiria ter um ressurgimento grande”.

Entre as causas da falta de atratividade do mercado de capitais português, os dois gestores apontam o défice de apetite ao risco dos portugueses e a “tradição excessiva” de recurso ao crédito bancário pelas empresas. “As empresas estão enraizadas a recorrer à banca como fonte de financiamento privilegiada e não ao mercado de capitais. Pela pequena escala e dimensão é complicado e o nível de regulamentação, transparência, regras de governance que são exigidas para que se adaptem e tenham capacidade de ir ao mercado de capitais é infinitamente mais complexo aqui do que noutros lados”, diz Moura Martins, recordando que hoje “Portugal atingiu o mínimo de empresas cotadas, 34”.

A dimensão do nosso mercado de risco representa menos de 40% do PIB – em Espanha é 143% - e as poupanças estão quase todas elas concentradas em depósitos bancários”, diz António Ramalho, salientando que “existem vários programas em curso no sentido de aliciarem as pessoas para o mercado de capitais”, mas “tudo isso vai depender da evolução da matriz de confiança na poupança em risco”.

Este não é, contudo, um problema apenas de Portugal, mas sim da Europa. “O mercado de capitais é um setor onde mais se verifica o paradoxo da realidade da União Europeia: um gigante económico com instrumentos de barro”, afirma Moura Martins, defendendo que a existência de um mercado de capitais único é “fundamental para dar escala à economia europeia  e expressão financeira às suas empresas”. Sublinhando que em termos de capitalização bolsista a Nvidia é igual à economia alemã, a Microsoft à economia francesa e a Apple superior à economia italiana, o gestor salienta que “a Europa não consegue atrair nem para si as grandes empresas europeias que vão buscar refúgio nos EUA onde têm muito mais liquidez”.

“90% do financiamento às empresas na Europa é feito através dos bancos e nos EUA não chega a 30%. Isso muda completamente não só a mentalidade de quem investe, mas também a mentalidade de quem é investido”, diz o gestor, defendendo que “se não damos escala ao mercado nunca vamos conseguir alterar o estado de coisas”.

António Ramalho recomenda, por seu lado, analisar o caso da Suécia, “um exemplo de uma intenção clara, definida politicamente, de desenvolver um projeto que coloca mais apetite a risco e mais empresas no mercado” Como? "Criando uma conta de investimento sujeita ao regime de proteção dos depósitos", ou seja, tornando parte do investimento das pessoas sem risco para que elas tenham o hábito e a curiosidade de começar a fazê-lo, e criando “o aliciante para as empresas suecas olharem para o mercado de capitais como fonte de financiamento”, explica, revelando que a Suécia hoje tem 197 empresas cotadas. 

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