Powell reitera que não há trajetória sem riscos devido a uma ameaça dupla
A ameaça, no curto prazo, de uma maior inflação e de menos empregos levam a que o presidente do banco central norte-americano não veja um caminho sem riscos. A debilidade do mercado laboral está a pesar mais, daí o corte de juros.
O presidente da Reserva Federal (Fed) norte-americana, Jerome Powell, sublinhou nesta terça-feira, 23 de setembro, que a fraqueza do mercado laboral está a sobrepor-se aos receios em torno da inflação persistente, o que levou à decisão do primeiro corte de juros deste ano – quando no passado dia 17 o banco central anunciou a descida de 25 pontos-base da taxa dos fundos federais, para um intervalo entre 4% e 4,25%.
A redução dos juros diretores surgiu num contexto em que tanto a oferta como procura de empregos estão a perder força, ao mesmo tempo que o impacto das tarifas alfandegárias impostas pela Administração Trump está a fazer subir a inflação nos EUA.
Quando estamos perante cenários como o atual, a função da Fed é “equilibrar ambos os lados do seu mandato duplo” – o da estabilidade dos preços e do pleno emprego, declarou Powell no seu discurso perante líderes empresariais, num evento promovido pela The Greater Providence Chamber of Commerce, de Rhode Island, dedicado às perspetivas económicas de 2025.
Segundo Powell, no curto prazo há riscos de mais inflação e de menos emprego, o que é “uma situação desafiante”. “Riscos bilaterais significam que não há um caminho sem riscos”, acrescentou.
Atendendo a que se espera que a aceleração inflação não esteja para durar – já que o impacto das tarifas poderá não ser duradouro –, foi o cenário mais débil no mercado de trabalho que pesou mais na última decisão de política monetária do banco central dos Estados Unidos, com a própria Fed a ter sinalizado na última reunião que poderia reduzir os juros em mais 50 pontos-base este ano (repartidos por dois cortes, um em outubro e outro em dezembro).
No entanto, neste seu discurso, Powell não falou em mais cortes de juros no horizonte, mostrando uma abordagem cautelosa (ao dizer que a Fed não pode ignorar os riscos das pressões inflacionistas)) – em contraste com outros responsáveis da Fed que apelaram a um posicionamento mais urgente.
Se a Fed cortar os juros “de forma demasiado agressiva”, disse Powell, “podemos deixar inacabado o nosso trabalho com a inflação e precisarmos de, mais tarde, reverter o rumo” (subindo a taxa diretota). Mas, acrescentou, se a Fed mantiver os juros demasiado elevados durante muito tempo, “o mercado laboral poderá abrandar desnecessariamente”, apontou. Ou seja, a prudência vai continuar a imperar e os potenciais novos cortes não serão decididos apressadamente.
Este foi o primeiro discurso do presidente da Fed desde a decisão de corte dos juros diretores, com Powell a reiterar então que o banco central está focado na gestão estratégica dos riscos que se colocam ao seu mandato duplo.
Mais lidas