Chegou a hora de investir nos EUA
Sim, não se enganou a ler. As acções americanas estão atractivas depois da queda de 19% desde o máximo de Outubro. E as piores notícias já estão incorporadas no preço. Se acredita que os Estados Unidos vão sair da pior crise financeira dos últimos 70 anos
Os Estados Unidos (EUA) são, numa abordagem imediata, o primeiro sítio onde não colocar as suas poupanças neste momento. O país é o epicentro da actual crise financeira mundial e é já unânime que a economia vai entrar em recessão. Mas também é verdade que a queda das acções já desconta boa parte das más notícias. E que, a médio e longo prazo, se perspectiva uma recuperação. O que se pode traduzir numa boa oportunidade de investimento, sobretudo para quem investe em euros. É que a descida do dólar reforçou o poder de compra, ou investimento, dos europeus nos EUA. Os portugueses incluídos.
O UBS não tem dúvidas. Não há abrandamento, ou recessão económica, que justifique um virar de costas às acções americanas. O ritmo mais lento de subida do mercado americano nos anos que se seguiram à crise do início da década, quando comparado com as expressivas valorizações de outras regiões do globo, dá agora alguma vantagem às empresas americanas.
O preço das acções começa a estar mais baixo em relação a outros mercados maduros, principalmente a Europa. Ao mesmo tempo, há a expectativa de um crescimento superior dos resultados das empresas. À excepção, naturalmente, do sector financeiro, que atravessa uma “onda” de prejuízos históricos com o colapso no mercado de crédito. O UBS estima que os lucros das empresas americanas, excluindo as financeiras, cresçam 14% em 2008.
Mas o maior argumento de todos para justificar o investimento nos EUA, é a valorização do dólar. Nas contas do banco, o poder de compra de acções americanas em euros, justamente o caso português, aumentou 20% só nos últimos seis meses: “A maior subida em cinco anos da capacidade de investimento nos EUA e que prova ser um poderoso incentivo para os europeus olharem para oportunidades nas acções americanas”, afirma, peremptoriamente, o analista Jeffrey Palma, numa análise de Março.
O analista salienta que o índice de referência S&P500 negoceia, em euros, no patamar mais baixo desde 2003. E mesmo em relação às transacções em dólares, estima um melhor desempenho dos EUA, suportado pelo redireccionamento do investimento da Europa para o outro lado do Atlântico face ao abrandamento dos resultados das empresas europeias.
Aposta a longo prazo
Também o Citigroup está optimista, sobretudo se o horizonte de investimento for mais alargado. “Estamos positivos para as acções americanas, numa perspectiva mais de longo-prazo”, escreve o analista responsável pelo mercado dos EUA, Tobias Levkovich, numa nota divulgada no início do mês.
Mas avisa para uma “viagem turbulenta” ao longo deste ano, marcada pela elevada volatilidade. Um dos motivos prende-se com o facto de as previsões para os lucros das empresas americanas ainda serem “optimistas”, pelo que é de esperar mais “más” notícias ainda este ano, com novas revisões em baixa de estimativas e resultados decepcionantes.
O Citigroup analisou as anteriores recessões nos EUA e conclui que os primeiros seis meses são, tipicamente, maus para as acções, mas o desempenho melhora depois disso. Assumindo que a recessão começou no início deste ano, esta análise sugere uma recuperação mais para o fim de 2008. Nessa altura, as previsões dos analistas serão mais realistas e a Reserva Federal já terá actuado.
Forte potencial de subida
Para o JPMorgan, os EUA vão sofrer uma “recessão curta”, definida como um período de contracção da economia não superior a 12 meses. O banco prevê uma queda de 0,5% do PIB já no primeiro semestre, com o poder de compra das famílias a diminuir devido à inflação, à crise no imobiliário e ao menor rendimento disponível. No entanto, o economista-chefe do banco espera apenas uma queda ligeira no investimento e nos inventários.
Uma recessão mais longa deverá ser evitada por novos cortes nas taxas de juro, que deverão recuar até aos 1,75% até meados do ano, o estímulo fiscal anunciado pelo governo de George Bush e a robustez das economias emergentes, em particular o Brasil, a Rússia, a Índia e a China.
Com base nesse cenário, o JPMorgan considera que “este é o momento para comprar acções americanas”. O banco argumenta que, historicamente (desde 1900), as acções sobem 12% numa recessão de curta duração. Com três meses já passados, assumindo o começo da contracção no início do ano, “o potencial de subida será de cerca de 20% nos próximos 12 meses”, de acordo com a análise.
Se os argumentos dos bancos foram convincentes, saiba que existem diversas formas de ir às comprar nos EUA. Pode optar por se proteger do risco nos fundos de investimento, lançar-se à aventura sozinho nas acções ou, caso não queira perder tempo, comprar índices. Conheça as soluções que melhor se adequam ao seu perfil de investimento.
3 razões para investir
Acções estão baratas
Os EUA passaram ao lado da euforia vivida em relação aos mercados de acções de outras regiões do globo, nos anos que se seguiram à crise do início da década. A recuperação mais branda permitiu que as acções não tivessem atingido valores tão expressivos como noutros mercados. A recente turbulência nas bolsas provocou uma baixa de preços significativa, com o S&P 500 a cair 19% face ao máximo histórico em Outubro de 2007. A convicção de que as más notícias já foram incorporadas, leva os bancos de investimento a concluir que as acções americanas estão atractivas face aos lucros.
Subida do dólar
A actuação agressiva da Reserva Federal aumentou a debilidade do dólar em relação ao euro. Nas contas do UBS, o poder de compra dos europeus de acções americanas aumentou 20% só nos últimos seis meses. A estimativa da generalidade dos analistas é que, a partir do segundo semestre, o dólar comece a recuperar lentamente terreno ao euro. O que significa que, se investir em activos na moeda americana, poderá beneficiar da sua valorização, aumentando os ganhos.
Recuperação económica
Os analistas esperam que a recessão da economia americana seja curta, tendo em conta a expectativa de novos cortes na taxa de juro de referência. A segunda metade do ano deverá, assim, ser assinalada por uma aceleração da actividade, o que permitirá restaurar a confiança dos investidores. A recuperação económica é acompanhada pela melhoria dos resultados das empresas. À excepção do sector financeiro, os analistas estimam um aumento dos lucros das cotadas americanas.
3 ameaças para ficar atento
Recessão prolongada
Mesmo entre os membros da Reserva Federal, a questão não é unânime. As minutas da última reunião de governadores deixaram claro que, embora a maioria apontasse para uma recessão de curta duração, havia quem defendesse uma contracção mais profunda, com uma diminuição do rendimento disponível para as famílias e mais desemprego. Se este último cenário se confirmar, é provável que as acções americanas sofram perdas acrescidas e levem mais tempo a recuperar. Inevitavelmente, o dólar será também atingido.
Crise do crédito
A semana passada, o FMI avançou com uma estimativa de 945 mil milhões (602 milhões de euros) para as perdas decorrentes da crise no crédito. Até ao momento estão apurados 232 mil milhões, o que evidencia a incerteza que ainda existe em relação ao impacto da crise financeira. De acordo com a organização internacional, os problemas estão a chegar também aos restantes segmentos do crédito residencial, aos empréstimos ao consumo e às empresas. Num contexto em que os bancos já estão fortemente descapitalizados, novas amortizações poderão colocar em causa a estabilidade do sistema financeiro. Os resultados do primeiro e segundo trimestre serão o “tira-teimas”.
Queda nos resultados
O consenso das previsões aponta para um crescimento de 18% nos lucros das empresas americanas em 2008. Uma estimativa que alguns analistas consideram demasiado optimista. Depois da queda em 2007, a expectativa é a de que os lucros voltem a crescer, sobretudo no último trimestre. Mas uma recessão mais profunda pode baralhar as contas.
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