De recorde em recorde, ouro caminha para os 5.000 dólares
O ouro está a brilhar mais do que nunca: já soma 124,8% no acumulado dos últimos três anos e tudo aponta para que não vá parar por aqui. Segundo algumas projeções, deverá chegar aos 4.000 dólares por onça já no próximo ano – e há até quem o veja a atingir o patamar dos 5.000 dólares caso a Reserva Federal (Fed) norte-americana ceda às pressões sobre a sua menos independência e isso faça com que haja uma venda de ativos do Tesouro.
Nas duas primeiras sessões desta semana, o ouro para entrega a pronto (mercado spot) estabeleceu novos recordes, tendo ontem tocado num máximo de 3.790,82 dólares por onça, elevando para 43,77% o ganho desde o início do ano. O grande mote era o esperado discurso, esta terça-feira, de Jerome Powell, tendo o presidente do banco central dos EUA reiterado os receios em torno da debilidade do mercado laboral, mas sem dar pistas sobre novos cortes de juros, optando por uma abordagem cautelosa - o que, ainda assim, não demoveu os investidores, que mantiveram o ouro em recordes. E agora há novas fasquias à espreita, com muitos analistas a revelarem grande otimismo na trajetória deste metal precioso.
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O Goldman Sachs é o que coloca a bitola mais alta, ao prever que o ouro possa atingir 5.000 dólares em 2026 se houver mais incerteza em torno da Fed – especialmente se o mercado pressentir que Trump está a levar a bom porto a sua pressão no sentido de novos cortes dos juros – e se a forte procura pelo metal amarelo prosseguir. Segundo o banco de investimento, essa perceção do mercado perante o banco central poderia levar os investidores privados a venderem dívida pública – e bastaria estes transferirem 1% de títulos do Tesouro norte-americano para a compra de ouro para o metal disparar até aos 5.000 dólares. Se assim não for, a estimativa fica-se pelos 4.000 dólares.
Também o Deutsche Bank, o JPMorgan e o ANZ Group apontam para os 4.000 dólares em meados de 2026, ao passo que o UBS reviu a sua projeção em alta de 200 dólares para esse mesmo período, ao colocar agora a sua estimativa nos 3.900 dólares.
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“O ouro continua a ser um diversificador de longo prazo, já que o seu valor como 'ativo de refúgio' continua a crescer. O metal pode também ser uma cobertura contra a inflação e riscos orçamentais elevados, ao mesmo tempo que beneficia de compras mais estruturais por parte dos bancos centrais”, salienta Giovanni Staunovo, analista de matérias-primas do UBS, num “research” a que o Negócios teve acesso.
Há ainda quem se mostre mais cauteloso, como os analistas do Citi e do HSBC, que apontam para um preço no curto prazo nos 2.500 e nos 3.125 dólares, respetivamente – mas reconhecendo um “outlook” amplamente positivo para o longo prazo.
O metal amarelo tem fixado sucessivos máximos históricos desde finais de agosto, em grande medida devido à viragem na política monetária dos Estados Unidos: primeiro com a perspetiva do primeiro corte de juros de 2025 pela Fed – o que aconteceu no dia 17 de setembro – e depois com a convicção de que o banco central procederá a mais duas reduções da taxa diretora até ao final do ano.
Para esta semana esperam-se ainda mais tomadas de posição de alguns responsáveis da Fed. “Embora não sejam esperadas surpresas, qualquer inclinação clara no sentido de cortes de juros mais agressivos ou de uma postura mais restritiva poderá afetar o desempenho do dólar e, por consequência, influenciar o preço do ouro, dada a correlação inversa entre os dois ativos”, sublinha Ricardo Evangelista, CEO da ActivTrades Europe. “O consenso geral é de que os responsáveis da Fed manterão a orientação ‘dovish’ sinalizada na última reunião”, refere.
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“A atenção deverá continuar centrada no equilíbrio entre os riscos do mercado de trabalho e a inflação persistentemente elevada, mantendo em aberto a possibilidade de novos cortes de juros até ao final do ano, criando uma dinâmica que deixa espaço para mais perdas do dólar. Neste contexto, o ouro deverá continuar a ser suportado pela procura de refúgio seguro e pela fraqueza adicional do dólar”, acrescenta Ricardo Evangelista. De facto, a impulsionar o metal precioso tem estado igualmente a fraqueza do dólar, já que o metal é denominado na nota verde e fica assim mais atrativo para quem negoceia com outras moedas.
Também a incerteza geopolítica tem contribuído para que o ouro reforce o seu estatuto de valor de refúgio. “Os fortes ataques da Rússia com drones e mísseis contra a Ucrânia, conjugados com a escalada de tensões no Leste da Europa e no Médio Oriente, reforçaram o tradicional papel de porto seguro do ouro”, sublinha Rania Gule, analista de mercado da XS.com, numa análise a que o Negócios teve acesso. “Historicamente, o aumento dos riscos geopolíticos reforça a procura pelo metal amarelo, especialmente quando conjugados com políticas monetárias mais brandas”, acrescenta a mesma estratega.
Por outro lado, um pouco por todo o mundo, os bancos centrais – especialmente da China e da Índia – têm continuado a comprar mais ouro para as suas reservas, o que também sustenta o metal amarelo. E sem esquecer a grande aposta no ouro por parte dos "exchange-traded funds" (ETF), bem como a quebra nas rendibilidades reais das obrigações quando ajustadas à inflação.
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