Do “rating” à recessão. Quais os riscos de um “default” dos EUA?
Está a bastar o impasse para criar “stress” em torno da dívida norte-americana. Se o país entrar em incumprimento temporário, a economia será castigada. Ainda mais, se a situação for prolongada.
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Com a “data X” – o momento em que os Estados Unidos deixam de ter capacidade para cumprir com as obrigações financeiras – a aproximar-se, o departamento orçamental do Congresso e o Tesouro norte-americano juntaram-se para analisar os potenciais impactos. “Historicamente é claro que até mesmo a aproximação de uma quebra no tecto à dívida dos EUA pode causar significativas disrupções aos mercados financeiros que penalizem as condições económicas para famílias e empresas”, avisa o relatório conjunto dos dois gabinetes divulgado pela Casa Branca. Os mercados parecem já estar a incorporar a temeridade política através de maiores prémios de risco, mas as consequências podem ser ainda mais graves. Estes são os dois maiores riscos: Risco de um breve incumprimento Se os Estados Unidos quebrarem o tecto, é provável que os custos para a economia se fizessem sentir “rapidamente”. Mark Zandi, economista-chefe da Moody’s Analytics, antecipa que mesmo uma breve entrada em incumprimento possa gerar uma crise caracterizada por um forte agravamento nas “yields” da dívida pública e afundar dos mercados acionistas. O financiamento a curto prazo – essencial aos fluxos de crédito e ao funcionamento diário das atividades económicas – poderia mesmo entrar em paralisação. Já a Fitch indica que, logo após um “default”, o “rating” dos Estados Unidos seria colocado no nível RD - ou seja, “restricted default”, o que significa que os ativos do Tesouro norte-americano passariam a ter uma notação financeira em nível D (especulativo) até que a situação fosse resolvida. Cálculos da Brookings, citada no mesmo documento, indicam que essa perda sem precedentes na confiança em relação ao Tesouro norte-americano poderia traduzir-se num acréscimo de 750 mil milhões de dólares em custos de financiamento ao longo da próxima década. Risco de “default” prolongado Os custos seriam ainda mais elevados se a situação de incumprimento se mantivesse. As simulações realizadas pelos especialistas indicam que a situação geraria uma contração económica comparável à Grande Recessão. No terceiro trimestre de 2023, o primeiro completo de quebra no tecto da dívida norte-americana, os mercados acionistas em Wall Street afundariam 45%, gerando um forte impacto nas poupanças para a reforma dos cidadãos do país. Em simultâneo, a confiança de consumidores e empresários seria penalizada, com consequências para o consumo e investimento. A taxa de desemprego nos EUA subiria 5 pontos percentuais. “Ao contrário da Grande Recessão e da recessão da Covid, o governo não teria capacidade de ajudar consumidores e negócios. À medida que a quebra continuasse, a economia recuperaria lentamente e o desemprego continuaria 3 pontos percentuais acima dos níveis em final de 2023”, acrescenta.
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